quinta-feira, 26 de julho de 2012

Educação à luz da tradição



Quase todos os países do mundo moderno estão a “reformar” os seus sistemas de educação. Todavia, apesar dos enormes esforços e recursos aplicados no ensino e na aprendizagem, os ministros da educação modernos revêm constantemente os programas curriculares numa tentativa de decidir o que as crianças devem aprender.
  
O entendimento da natureza humana foi esquecido, a par com a perda de um sentido do sagrado e de uma ligação com o Princípio Divino. Estes aspectos essenciais  para o bem das crianças neste mundo e para o benefício dos seus fins últimos nunca são comunicados nem compreendidos. Nas sociedades tradicionais, a educação era um meio através do qual o conhecimento do Princípio Divino e da sua relação com a alma humana era transmitida às gerações mais jovens.

Education in the Light of Tradition é uma compilação de textos que aborda um tema raramente discutido nos círculos filosóficos e educacionais. Esta publicação da World Wisdom é um contributo para a redescoberta das verdades e dos valores nos sistemas de educação tradicionais e para o aclarar das dificuldades sentidas nos sistemas públicos de educação moderna.

O quarto número da Revista Sabedoria Perene, a publicar em breve, incluirá traduções de alguns artigos também considerados nesta publicação da World Wisdom. Damos também a conhecer os conteúdos desta excelente publicação:

Editorial

I. Education and the Human Condition

FRITHJOF SCHUON
The Triple Nature of Man

ANANDA K. COOMARASWAMY
The Bugbear of Literacy
TITUS BURCKHARDT
The Traditional Sciences in Fez

WILLIAM STODDART
The Role of Culture in Education
M. ALI LAKHANI
Education in the Light of Tradition: A Metaphysical Perspective

ENES KARIĆ
Moral Tuition and Education

II. Education in Traditional Societies
CHARLES EASTMAN (OHIYESA) & JOE MEDICINE CROW
Traditional Native American Education
JAGADGURU OF KANCHIPURAM
Traditional Hindu Education

MARCO PALLIS
Education in the Borderlands of Tibet

SACHIKO MURATA
Learning in the Confucian Tradition

WILLIAM C. CHITTICK
The Goal of Islamic Education

ANNE FITZGERALD-LO
Education in Sub-Saharan Africa

III. Dilemmas of Modern Education

MARTIN LINGS
Education at the Eleventh Hour
SEYYED HOSSEIN NASR
Modern Education: Its History, Theories, and Philosophies

LORD NORTHBOURNE
Intellectual Freedom

GHISLAIN CHETAN
Schools Adrift

IV. Solutions for Education Today?
 
JEAN BIÈS
Transdisciplinary Education: Profiles and Projects

JAMES S. CUTSINGER
The Once and Future College: Rose Hill in Theory and Practice
GRAY HENRY-BLAKEMORE
Educating Young Children Today: An Interview with Elena Lloyd-Sidle

Book Reviews

JANE CASEWIT
L’Ecole à la Dérive: L’Enseignement Actuel à la Lumière de la Tradition Universelle
by Ghislain Chetan

SAMUEL BENDECK SOTILLOS
A Spirit of Tolerance: The Inspiring Life of Tierno Bokar
by Amadou Hampaté Bâ

Notes on the Contributors  

Note on the Editor

sábado, 14 de julho de 2012

Educação na Décima Primeira Hora

Regressamos ao tema do próximo número da revista Sabedoria Perene, a Educação, com a publicação de um pequeno trecho de um dos ensaios que surgirão neste número, Educação na Décima Primeira Hora, um belíssimo texto de Martin Lings

Assinalamos o facto de esta tradução ser o fruto de uma nova colaboração com a revista, e que o mesmo nos traz grande alegria e incentivo para continuar com este trabalho de disponibilizar para a nossa língua as palavras cada vez mais urgentes destes autores. 

Anunciamos, ainda, que é nossa intenção disponibilizar este novo número da revista até ao fim do verão, se Deus quiser. 


“Então”, poderia perguntar-se, “o que devemos ensinar?” A resposta é: tanto quanto possível, a verdade completa, o que significaria ensinar muitas verdades que não foram ensinadas em épocas melhores, uma vez que as necessidades da décima primeira hora não são as mesmas que aquelas da sexta ou da sétima. A título de exemplo, permita-se ensinar aos jovens, no final da escolaridade, que muitos cientistas conjecturaram – mas em nenhum sentido provaram – que a Humanidade evoluiu a partir de uma espécie inferior. Esta conjectura é um incidente na história actual. Mas permita-se ensinar-lhes ao mesmo tempo que a teoria em questão, que apenas passou pelas mentes humanas numa época relativamente recente, é o exacto oposto não apenas daquilo que a Bíblia nos ensina, mas também da opinião unânime de todo o mundo pré-Bíblico em todas as partes do globo. Em particular, a tradição das quatro idades do ciclo temporal, do Ouro, da Prata, do Bronze e do Ferro, que dominou a perspectiva da antiguidade clássica, remontando às trevas da pré-história, foi também prevalente desde tempos igualmente recuados entre os Hindus e os Índios Americanos. Ou, para tomar apenas um aspecto da conjectura evolucionista, nomeadamente o de que a linguagem humana evoluiu a partir dos sons inarticulados dos animais, fazemos notar que muito embora a origem da linguagem esteja para lá da nossa capacidade de averiguação, a ciência linguística pode ainda assim conduzir-nos a um passado muito remoto, e ensina-nos que as línguas mais antigas são as mais complexas e majestosas, sendo ainda as mais ricas na variedade dos sons consonantais. Todas as línguas actualmente utilizadas derivaram de linguagens mais elaboradas, que foram simplificadas e, de forma geral, mutiladas e corrompidas. Involução, e não evolução, é também o destino do significado de muitas palavras. Todos os estudantes deveriam estudar a já referida degradação da palavra “intelecto”. É um facto científico que em todo o mundo antigo o conceito das faculdades humanas estava mais exaltado e tinha um alcance mais vasto do que hoje em dia. 

Deixemos que os conceitos tradicional e moderno do universo – ou, se preferirmos, da realidade – sejam colocados lado a lado. De acordo com o pensamento moderno típico, supõe-se que a “realidade” tenha sido constituída originalmente pelo mundo material, e apenas por este. Diz-se que a vida terá surgido de uma “centelha” a partir da matéria, de uma forma que está ainda por explicar, e que os organismos vivos foram desenvolvendo faculdades psíquicas, a começar pelos sentidos, depois os sentimentos e a memória, e por fim, à medida que o próprio homem evoluiu gradualmente, a imaginação e a razão. Do outro lado, de acordo com a explicação tradicional, não é o mais elevado que provém do menos elevado, mas o menos elevado que provém do mais elevado; nem está a existência limitada ao psíquico e ao físico. A Origem Suprema – e Fim – de todas as coisas é a Verdade Absoluta, que detém a única Realidade no sentido cabal da palavra, e que manifesta ou cria, em níveis inferiores da realidade, o todo da existência. A teoria tradicional da existência, comum a todas as religiões, é resumida na tradição sagrada do Islão: “Eu era um Tesouro Oculto, e desejei ser conhecido, e assim criei o mundo”. O psíquico e o físico, alma e corpo, são os dois níveis inferiores da realidade, e juntos constituem aquilo a que chamamos de “este mundo”. Sobre eles está o domínio do Espírito, conhecido como “o outro mundo” do ponto de vista da vida na terra, mas sendo primeiro na ordem da criação, porque constitui nada menos que o “transbordar” primordial da própria Realidade Divina. A partir deste reflexo imediato do Tesouro Oculto, o domínio psíquico é projectado como uma imagem que por sua vez projecta o domínio físico. A linguagem do simbolismo, que é parte da herança primordial do homem, baseia-se nesta hierarquia dos níveis distintos do universo. Um símbolo não é algo escolhido arbitrariamente pelo homem para ilustrar uma realidade superior; consegue fazê-lo precisamente porque está enraizado nessa realidade, que o projectou, como uma sombra ou um reflexo, no plano da terra. Cada objecto terrestre é o resultado de uma série de projecções, do Divino para o espiritual, do espiritual para o psíquico, do psíquico para o físico. Mas neste plano inferior, que é o mais afastado dos Arquétipos Divinos, e que, estando instalado no tempo e no espaço, sofre um extremo de diferenciação e de fragmentação, é necessário distinguir entre objectos periféricos, que não são mais do que pálidos e fragmentários reflexos, e os objectos mais centrais de cada domínio, ou seja, de cada subdivisão dos reinos animal, vegetal e mineral. O termo símbolo está reservado para aquelas manifestações mais directas que reflectem os seus arquétipos com maior clareza, tendo assim o poder de suscitar uma “lembrança”, no sentido Platónico, da verdade transcendente que é simbolizada.

Tradução de Sílvia Leite

domingo, 8 de julho de 2012

Fulgores de Fátima

por Pedro Sinde


Depois de uma primeira colaboração com o texto “O botão da perplexidade no caminho da flor”, o Pedro Sinde presenteou-nos com o primeiro de um conjunto de ensaios que pretende escrever em torno das aparições de Fátima. 

Gratos, partilhamos de seguida um trecho do texto que poderá ser lido na íntegra aqui.



Fulgores de Fátima, I

O escapulário e o rosário: duas armas para a ‘grande guerra santa’


Para J.-C. P.

As palavras que se seguirão procurarão reflectir sobre alguns aspectos, eventualmente menos notados, das aparições de Fátima. Estes textos não têm nenhuma ordem explícita, são apenas reflexões que procuram olhar para o tema das aparições a partir de diferentes ângulos, de modo a ir extraindo vários aspectos que nem sempre aparecem explicitamente; trata-se, afinal, de uma das grandes manifestações dos céus: as primeiras aparições do século XX e as maiores de que se tem conhecimento.

O leitor achará natural a referência ao rosário no título de um texto sobre as aparições de Fátima, no entanto, poderá espantar-se por aí se fazer referência explícita ao escapulário. Há várias razões importantes para isso, mas seria suficiente dizer que a Senhora do Carmo foi a última forma de que a Virgem se revestiu, na derradeira aparição, a 13 de Outubro de 1917, com o escapulário no braço direito; de resto, a importância atribuída ao escapulário foi reconhecida por Lúcia ao afirmar (bem antes de 1960) que o escapulário “é parte integrante da mensagem de Fátima” e ainda que “o Escapulário e o Rosário são inseparáveis” (Kyliano Lynch, Nossa Senhora de Fátima e o Escapulário). Podemos ainda lembrar estes dois elementos: por um lado, a veneração da Senhora do Carmo em Fátima é muito antiga e, por outro, a própria Lúcia acabou por entrar no Carmelo.
Nesta última aparição, a Virgem mostrou-se sucessivamente sob três aspectos: primeiro como Senhora do Rosário, depois como Senhora das Dores e, finalmente, como Senhora do Carmo, isto é, mostrou, de forma eloquente, três aspectos ou etapas vitais de qualquer caminho espiritual. Podemos dizer, entre outras coisas, que para chegarmos à paz do Carmelo, ao jardim da Virgem, ao Paraíso na Terra, começamos pelo fervor da crença (ou do conhecimento), representado no rosário, e que, com a sua ‘luz’ e com o seu ‘calor’, vai fixar o volátil e dissolver o fixo: por um lado, vai fixar a mente dispersa (agora cativada pela luz do rosário) e, por outro, vai dissolver a ‘dureza do coração’, os aspectos da alma que estão ‘endurecidos’, a insensibilidade, quer dizer, vai despertar a alma, retirando-a do sono e da passividade – ou do esquecimento – em que vive, introduzindo no seu dia-a-dia estes momentos de graça, de meditação, de oração, de invocação. Para a alma decaída, a transformação é, naturalmente, dolorosa.

sábado, 7 de julho de 2012

Palavras Trovão

Aqueles que sustentam o argumento evolucionista de um progresso intelectual gostam de explicar ideias religiosas e metafísicas através de factores psicológicos de natureza inferior, tais como o medo do desconhecido, a esperança pueril da felicidade eterna, o apego a um imaginário que nos é caro, o escapismo onírico, o desejo de oprimir os outros de forma fácil, etc; como pode alguém ignorar que tais suspeitas, apresentadas despudoradamente como factos demonstrados, implicam inconsequências e impossibilidades psicológicas que não podem escapar a qualquer observador imparcial? Se a Humanidade tivesse permanecido estupidificada durante milhares de anos, não é possível explicar como teria deixado de o ser, especialmente porque tal aconteceu supostamente num espaço temporal relativamente curto; e isto é ainda menos explicável quando se observa com que inteligência e heroísmo se foi estúpido durante tanto tempo, e com que miopia filosófica e decadência moral nos tornámos finalmente "lúcidos" e "adultos". 

Frithjof SchuonDu Divin à l'Humain 
 
Tradução de Sílvia Leite

domingo, 1 de julho de 2012

Relação mestre-discípulo – no Ocidente!



Aquele que instrui um candidato para a Dança do Sol é o tunkansila. Isto significa que é mais do que um avô. O candidato passa a ser como um recém-nascido. O seu instrutor dirige-o em tudo. Ele não deve fazer mais do que aquilo que o seu instrutor lhe diz. O instrutor pensa e fala por ele, e diz-lhe como pensar e falar. O instrutor estabelece as regras e o candidato deve obedecê-las com precisão. O instrutor torna-se o outro eu do candidato. 

- George Sword, Teton Sioux