quinta-feira, 21 de junho de 2007

Introdução ao "Sabedoria Perene"

Ananda K. Coomaraswamy, personalidade prodigiosamente brilhante, quando certo dia foi questionado sobre as motivações e o objectivo subjacente que o levaram a tornar-se num genial intérprete das religiões, da arte e da metafísica, respondeu simplesmente: “eu faço o que faço em primeiro lugar para a salvação da minha alma e, em segundo lugar, para todos os que possam beneficiar dos meus resultados”.

De forma semelhante, os autores deste espaço visam sobretudo utilizá-lo no processo de busca pessoal da Verdade, procurando materializar, através da escrita, o conhecimento adquirido ao longo do caminho percorrido e, simultaneamente, consolidar o seu entendimento, enquanto procuram avançar lenta e humildemente na direcção da Verdade.

No entanto, sendo uma característica do ser humano a sua grande capacidade de sonhar, os objectivos subjacentes à criação deste espaço manifestam o desejo de que, no futuro, os eventuais resultados pessoais obtidos possam constituir benefícios para outros que persigam objectivos semelhantes ou que pretendam iniciar essa busca.

Antes de falar sobre a forma deste espaço é fundamental abordar a sua essência, a qual, como indicado no título do blog, é a do estudo das doutrinas tradicionais ou da Tradição, e da Sophia Perennis.

E o que significam estes termos? A resposta a esta questão constituirá a principal motivação deste espaço, seguindo fundamentalmente a perspectiva universal de três grandes sábios: René Guénon, Ananda Coomaraswamy e Frithjof Schuon; mas também de um conjunto significativo de autores que seguiram o pensamento dos primeiros e que designaremos por Perenialistas. Entre estes podemos salientar os seguintes: Titus Burckhardt, Rama Coomaraswamy, Martin Lings, Marco Pallis, Seyyed Hossein Nasr, Huston Smith, James Cutsinger, William Chittick, Jean Biés, Jean Borella, M. Ali Lakhani, Harry Oldmeadow e Charles Upton, entre outros que mereceriam igual destaque.

Desvendando um pouco o véu, oiçamos as seguintes palavras de Frithjof Schuon: “A função essencial da inteligência humana é a capacidade de discernir entre o Real e o ilusório ou entre o Permanente e o não permanente, enquanto que a função essencial da vontade é a ligação ao Permanente ou ao Real. Este discernimento e esta ligação são a quinta essência de toda a espiritualidade; entendidos no seu nível mais elevado ou reduzidos à sua pura substância, estes constituem a universalidade subjacente a todo o grande património espiritual da humanidade ou o que se pode chamar de religio perennis, sendo esta a religião à qual os sábios aderem, aquela que está sempre e necessariamente fundada nos elementos formais da instituição divina”.

Podemos agora intuir não só a essência do tema central deste espaço, como também o significado de Perenealismo, cuja designação apresenta uma analogia perfeita com as flores perenes – que florescem de novo a cada ano a partir da mesma raiz. A ideia perenealista, usando as palavras de James Cutsinger, advoga que existe apenas uma Fonte Divina de toda a Verdade e que esta Fonte Se tem revelado continuamente à humanidade, “florescendo” repetidamente ao longo da sua história, apesar de cada um desses momentos de revelação apresentar formas diferentes, as diferentes formas das “flores” que representam as grandes religiões do mundo.

Um aspecto absolutamente fundamental para os Perenealistas e que é essencial referir é o de que estes, ao contrário dos defensores do sincretismo, acreditam que cada uma das grandes religiões reveladas é completa, ou seja, contém a totalidade da Verdade, apesar de admitirem a existência de religiões falsas, as quais nunca poderão constituir um caminho válido.

Assim, apesar destes autores considerarem a realização do entendimento da Unidade Transcendente da Verdade fundamental para, no actual ciclo cósmico do Kali Yuga, atingir a Salvação, não pretendem constituir qualquer tipo de nova religião e defendem, pelo contrário, as ortodoxias das grandes religiões, considerando que um Cristão deverá ser cristão na sua totalidade, um Muçulmano deverá ser muçulmano na sua totalidade; o mesmo para o Judeu, o Hindu, o Budista, etc., entendendo-se esta totalidade como a total entrega aos exoterismos e esoterismos da religião adoptada.

Tendo-se introduzido a essência pretendida para o “Sabedoria Perene”, falemos um pouco da sua forma, traduzindo o modo como procuraremos desvendar aquela essência.

Existirão essencialmente dois tipos de publicações. O primeiro, garantindo a maior parte das publicações frequentes, será constituído sobretudo por traduções de trechos de livros ou artigos de muitos dos autores referidos atrás, ou, ainda, de livros das grandes tradições espirituais ou das suas mais importantes personalidades. O segundo, será constituído por artigos de autoria própria, os quais procurarão sobretudo resumir livros e artigos ou apresentar em profundidade alguns dos principais autores dedicados à exposição da Sophia Perennis e da Tradição. Serão estas as linhas mestras de actuação dos autores deste espaço.

Concluída a apresentação dos objectivos deste espaço, é agora oportuno mencionar algumas das motivações adicionais à sua criação. Correndo o risco de cometer injustiça perante iniciativas que escapem ao nosso conhecimento, parece existir em Portugal uma importante lacuna de divulgação desta escola de pensamento, a qual julgamos ser essencial para o recuperar da dignidade humana e da sua capacidade intelectual. De facto, as traduções disponíveis dos autores acima mencionados são muito escassas ou mesmo inexistentes no caso dos mais contemporâneos. Por outro lado, as traduções existentes estão muitas vezes incluídas em colecções que abrangem temas muito diversos, chegando mesmo a ser enquadradas em contextos criticados pela escola Perenialista.

Assim, um dos objectivos deste espaço é também o de agregar esforços no sentido de divulgar de forma coerente esta corrente de pensamento e, eventualmente, motivar a criação de grupos de trabalho que se dediquem, por exemplo, à tradução de livros, à criação de publicações periódicas, à criação de um espaço na internet e/ou à criação de uma editora exclusivamente dedicada à divulgação dos principais autores destes temas, à imagem do que já existe em alguns países, onde se parece ter conseguido formar “elites” à imagem da elite concebida por René Guénon.

Aguardaremos com esperança que este trabalho possa dar frutos, comprometendo-nos a manter a nossa dedicação ao estudo da Verdade Una e Única.

“Aqueles que possam estar tentados a ceder ao desespero devem ter presente que nada do alcançado nesta busca poderá alguma vez ser perdido, que a confusão, o erro e a escuridão poderão apenas de uma forma aparente e efémera vencer uma batalha, que todo o desequilíbrio parcial e transitório terá forçosamente de contribuir para o grande equilíbrio do todo, e que nada poderá no final prevalecer contra o poder da verdade. A sua máxima deverá ser a antigamente usada por algumas organizações iniciáticas do Ocidente: Vincit Omnia Veritas.”
[René Guénon, A crise do mundo moderno]


Miguel Conceição & Nuno Almeida
2007/06/21

21 comentários:

  1. Seguindo com seus discípulos pelo caminho, entrou Jesus numa aldeia, e uma mulher, chamada Marta, hospedou-o em sua casa.
    Tinha esta uma irmã, chamada Maria, a qual se sentou aos pés do Senhor a ouvir a sua Palavra.
    Marta, porém, afadigava-se de um lado para o outro, ocupada com a lida da casa.
    Então aproximou-se de Jesus e disse:
    - Senhor, não te importas que eu fique a servir sozinha? Ordena a minha irmã que venha ajudar-me!
    Respondeu-lhe o Senhor:
    - Marta! Marta! Andas inquieta e preocupas-te com muitas coisas. Maria, entretanto, escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada.

    Lucas X, 38-42

    Nuno e Miguel
    Felicito-vos pela vossa dedicação ao Divino
    Paz aos vossos Corações
    Conceição

    ResponderEliminar
  2. Hoje é dia de Santa Marta, cuja história está no comentário anterior! ;)

    Aldous Huxley escreveu um livro que se chama "Perennial Philosophy". Só conheço em inglês.

    Tudo bom para vocês

    ResponderEliminar
  3. Boa noite,
    Desde já agradeço o interesse demonstrado e a participação.

    Sobre as considerações de Huxley relativamente à "philosophia perennis", sugiro a leitura do post "O que é a Tradição?" que aborda o assunto (http://sabedoriaperene.blogspot.com/2008/08/o-que-tradio-parte-i.html).
    Cmpts.
    Nuno

    ResponderEliminar
  4. Não me ocorreu que Huxley não fosse citado por não ser bem visto... :) ingenuidades...

    ResponderEliminar
  5. Parabéns pelo Blog. Fidelidade absoluta aos Estudos Tradicionais.

    DE um seguidor do outro lado do Atlântico, que está mais próximo graças a internet.

    Rodney Repullo / Brasil

    ResponderEliminar
  6. Muito obrigado.
    Um abraço deste lado do Atlântico.

    ResponderEliminar
  7. Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra.
    E em Jesus Cristo. Seu único Filho nosso Senhor e Salvador .
    O qual foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao inferno, no terceiro dia ressuscitou dos mortos, subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso, donde há de vir julgar os vivos e mortos com grande poder e glória.
    Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Cristã e na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém.


    Meu Deus: à simplicidade?
    Por Adiel Lucas

    Quem sou para ser escutado e, até mesmo lido por alguém?
    Quem, para ser visto, interrogado e menosprezado por ninguém!
    Sou um reles mortal, um acidente natural, uma imagem cerebral?
    Não, somente sou o que posso ser, sou um, apenas um, com todos vós.
    Logo, Jesus Cristo, o Cordeiro, o Santo de Israel, o Filho Unigênito de Deus, que foi imolado, morto, sepultado antes de toda a existência cósmica;
    despojou-se de tudo, para servir ao todo que havia criado. Pois, tudo foi criado por e para Ele, fazendo-Se Supra- Supremo-Soberano de todas às coisas criadas no Céu e na Terra. Para a manifestação de sua excelente Glória, sublime Paz e, excelsa Sabedoria.
    A Ele a Honra, a Glória, o Louvor, o Poder e a Majestade. Desde o Nada, que nunca fora nada, porquanto já o existencialismo do Tudo se auto- compreendia, até o fim, que nunca será o final, pois, o fim sempre terá o começo–meio-fim do eterno retorno deste incomensurável vai-vêm de nuances mentais e hipóteses teológicas. Cristo disse que se formos um com Ele, seremos um também com o Pai. Jesus sendo a cabeça e nós todos os membros do corpo, pois o corpo é um, tendo uma só cabeça e muitos membros, tão certo como vive o Senhor, somos um.
    Se um é o corpo, necessário terá de ser o espírito uníssono entre seus membros.
    Com isso quero entender: Como, na história do cristianismo, a Igreja pôde ser considerada o corpo de Cristo? Se há controvérsias em sua trajetória existencial.
    Concomitantemente desde à Igreja Primitiva até o contemporâneo mistério Católico- Evangélico- Ecumênico do derradeiro século XXI, perenemente às gerações.
    Julgando serei julgado, interpretando serei interpretado, estudando sistematicamente poderei ser estudado: estudos póstumos serão anátemas!
    Num prelúdio, instinto-intuitivo, expressarei minhas congruências: harmonia de um fato com fim em vista; determinar a causa examinando o efeito.
    Desmistificando a doença com o auxilio do antídoto. Quebrando o jugo com a unção, destronando paradigmas com a verdadeira sabedoria. Humilhando os exaltados com humildes e simples relatos contidos na Bíblia.
    Pois é chegado o momento em que os filhos de Deus, as ovelhas do Bom Pastor, os escolhidos, oprimidos, pobres, insultados, ofendidos e desprezados serem
    instruídos, preparados, metamorfoseados em jardim fechado, manancial de águas vivas, noiva imaculada, limpa e alva como a neve, pura e casta como o gelo. Para se encontrarem com o Rei dos reis, Senhor dos senhores, Príncipe da Paz, Raiz de Davi, Cordeiro que foi morto, mas venceu a morte e ressuscitando ao terceiro dia, pelo poder de sua Palavra oh, Pai: Aquele que era, que é, e sempre será, ao único Deus, imortal, que possui Ele só a imortalidade, e habita na Luz inaccessível e nos enviou seu infinito Amor, o Espírito Santo, Consolador, para nos convencer do pecado da justiça e do juízo, mediante sua graça. Que um dia, o Grande e terrível Dia do Senhor, voltará, como um dia foi, com Poder e grande Glória, para nos buscar.

    ResponderEliminar
  8. Anónimo3/6/09 21:40

    Em nome de Deus
    Que a paz de Deus esteja contigo

    Caro Miguel e amigos da SP,

    Mandei-vos um e-mail hoje... Mas agora que li este texto, fiquei sabendo que infelizmente a situação das traduções dos autores perenialistas em Portugal não está muito melhor do que aqui no Brasil... Que tal se juntarmos esforços para criar uma editora? Não tenho recursos em capital, mas falo inglês fluente e posso contribuir com traduções...

    Forte abraço, que a Luz Divina da Sabedoria ilumine nossos corações,

    Léo Magalhães / RJ / Brasil

    ResponderEliminar
  9. Muito bacana a iniciativa do Blog. Os textos são ótimos e as referências melhores ainda. Parabéns aos realizadores! =) Abraços também do outro lado do atlântico.

    Natália Cortez.

    ResponderEliminar
  10. Parabenizo a todos pela iniciativa e acrescento que deste lado do Atlântico, Graças ao bom Deus, já existe uma editora, desde 2008, que tem como finalidade a tradução e a publicação de autores ligados à Sophia Perenis. A editora Sapientia lançou, no ano passado, seu primeiro título, uma criteriosa tradução da obra de Frithjof Schuon intitulada a Transfiguração do Homem.
    Para mais informações o email da editora é atendimento@sapientia.com.br

    Abraços a todos
    Fernando Figueira Borgomoni
    Santos/SP/Brasil

    ResponderEliminar
  11. Boa tarde,
    já sabia da existência deste blog há 1 ou 2 meses, mas só hoje o vim visitar.
    Estou extasiada, se assim se pode dizer...!
    Parabéns e continuem.
    Ajudarei a divulgar este 'espaço' de animação espiritual que nos pode levar ao transcendente

    ResponderEliminar
  12. Boa tarde e muito obrigado.
    É uma grande alegria sentir esse entusiasmo. Que seja frutífero!
    E para isso "basta" apenas sermos aquilo que acreditamos.
    Saudações,

    ResponderEliminar
  13. Salve os filhos do Pai! - Toda expressão pessoal ao outro, quando do coração vem, oferece muito mais que palavras ou sentimentos, oferta luz e energia, pois, é o filho do PAI, que se manifesta pela sua bondade em favor do próximo.

    Adorei as Almas!!

    ResponderEliminar
  14. Olá! Namastê! Paz!

    Vocês já ouviram falar de Bede Griffiths e Huberto Rohden (brasileiro)?

    Os pensamentos deles se adequam perfeitamente a Sabedoria Perene!

    Obrigado!
    Shanti!

    ResponderEliminar
  15. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  16. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  17. Caro Jarson,

    Muito obrigado pelo seu comentário. É para nós uma alegria saber que existem mais peregrinos no caminho da Sabedoria Perene!

    Quanto à sua questão, li alguma coisa sobre Bede Grifiths num livro já divulgado neste nosso bloge (http://sabedoriaperene.blogspot.com/2011/06/um-peregrino-cristao-na-india.html), livro este que discute precisamente a marca perenialista/tradicionalista no pensamento do fundador do Ashram Shantivanam (Henri Le Saux), o qual, como se sabe, viria a ser liderado por Bede Griffiths a partir de 1968.

    Contudo, não conheço em profundida a obra de Bede Griffiths nem de Huberto Rohden. Você sabe se eles aderiram à corrente de pensamento perenialista/tradicionalista?

    Ficaria muito grato se enviasse para o meu e-mail pessoal mais informação sobre o Bede Griffiths e o Huberto Rohden.

    Votos de Paz,
    Nuno Almeida

    ResponderEliminar
  18. Olá Nuno!

    Fico muito feliz de que tenha me respondido tão brevemente!

    Estou pesquisando ainda as conexões para poder AFIRMAR que Griffiths e Rohden tiveram contato com obras de autores perenialistas. Já encontrei referência à obra de Titus Burckhardt em um livro de Griffiths.

    Mas posso lhe afirmar pela leitura dos livros de Griffiths é que SIM. Ele foi um autor perenialista.

    Huberto Rohden, filósofo e místico brasileiro, também escreve dentro do pensamento perenialista. Vou lhe encaminhar dados pelo email pessoal!

    Ficaria muito feliz em ver esses autores inclusos na lista de autores perenialistas =)

    Jarson Brenner,
    um peregrino convosco ao Eterno!
    Paz!

    ResponderEliminar
  19. Namastê Nuno!

    Enviei um email para você sobre Bede Griffiths
    e Huberto Rohden!

    Om Shanti!

    ResponderEliminar
  20. Assalamu Aleikum !

    Só agora conheci o blog, e estou muito entusiasmado por isso !

    Forte abraço.

    ResponderEliminar
  21. Boa tarde. Estou concluindo um livro baseado na vida de São Francisco de Assis e na sophia perennis. Por isso gostaria de obter o email do Sr. Mateus Soares de Azevedo. Já li vários artigos do Sr. Azevedo e gostaria de mostrar meu livro para ele antes da publicação. Por favor, isso é muito importante mim. Meu email é luisjunior40@gmail.com. Obrigado pela atenção.

    ResponderEliminar