domingo, 30 de janeiro de 2011

Palavras Trovão

O Infinito é o que é; podemos compreendê-lo ou não. A metafísica não pode ser ensinada a todos; mas se pudesse não existiria o ateísmo.


Frithjof Schuon, Spiritual Perspectives and Human Facts

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

As dimensões espiritual e religiosa da crise ambiental

Prossegue a preparação do terceiro número da Revista Sabedoria Perene, dedicado ao tema da Natureza. O texto seguidamente apresentado é uma tradução da sessão de abertura de uma das muitas palestras do Prof. Seyyed Hossein Nasr sobre o tema da crise ambiental e sobre a sua profunda relação com a intelectualidade e a espiritualidade ou religiosidade. Uma selecção dos conteúdos leccionados nesta palestra, enquadrada no âmbito do Programa de Educação Religiosa e Ambiente (REEP) dos Amigos do Centro e da Academia Temenos em 1998, será incluida no próximo número da Revista Sabedoria Perene.


Não existe nada mais premente para discutir do que a questão da crise ambiental e das verdades e falsidades associadas a todo este assunto. A palavra “crise” não é utilizada neste contexto por acidente já que se trata seguramente de uma verdadeira crise, a qual segue o encalço daquela crise espiritual e intelectual que é indissociável da perspectiva predominante do mundo moderno. Aquela crise anterior, a qual René Guénon discutiu há praticamente um século atrás em várias obras, incluindo em a Crise do Mundo Moderno, a qual era conhecida por uns poucos e ignorada pela maioria. A crise ambiental é todavia demasiado manifesta para ser ignorada, mesmo pela multidão. É uma crise de extrema gravidade e urgência e qualquer um que a menospreze está simplesmente a enganar-se a si mesmo ou a sonhar acordado. Porém, está na nossa natureza tentarmos nos esquivar do confronto com o que exige de nós as mais profundas transformações interiores.

Poderá ser da nossa natureza tentarmos nos esquivar de um perigo eminente a menos que estejamos verdadeiramente perante ele, mas não o pretendemos encarar precisamente pela razão de que é um perigo. A imagem séria pintada por académicos e cientistas honestos que estão interessados no futuro da humanidade pode, frequentemente, ser inutilizada por uma empresa de filmagens que envie uma câmara para a floresta, para fotografar uns poucos pássaros a voar por ali, com a pretensão de mostrar quão “normal” é a situação ambiental da terra, mesmo em zonas urbanas. Mas a verdade é o oposto. Estamos perto de uma enorme crise, a qual tem que ser tomada de forma completamente séria. Mormente, é também necessário compreender que a crise ambiental não pode ser resolvida através de boa engenharia (ou melhor engenharia); não pode ser resolvida através de planeamento económico; nem mesmo pode ser resolvida através de modificações de cosmética na nossa concepção do desenvolvimento e da mudança. A crise ambiental requer uma transformação muito radical na nossa consciência, e isto não significa descobrir um estado de consciência completamente novo, mas sim regressar ao estado de consciência que a humanidade tradicional sempre teve. Significa redescobrir a forma tradicional de olhar para o mundo da natureza como presença sagrada.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Palavras de sabedoria

Mais uma edição no outro lado do Atlântico com interesse para os leitores do Sabedoria Perene. Referimo-nos à tradução do famoso Hikam de Ibn Atâ’Allah al-Iskandari. A tradução para a língua portuguesa, de Aluizio J.R. Monteiro Jr., foi efectuada a partir da tradução do árabe para o francês realizada por Abd-ar-Rahman Buret com a colaboração e introdução de Titus Burckhardt.


O Hikam, ou “As palavras de sabedoria”, de Ibn Ata’Allâh de Alexandria figura entre as mais célebres compilações de aforismos sufis. Difundiu-se por quase todo o mundo islâmico a partir do Magreb (norte da África), onde foi objecto de inúmeros comentários, até a Indonésia, onde foi traduzido para o malaio. Sua difusão é, de certa forma, paralela à da ordem sufi Shadiliya, que tem no Hikam o vade mecum, o guia e o companheiro de viagem daquele que percorre a Via contemplativa. Isso porque Ibn Ata’Allah, nascido em meados do séc. VII/XIII e falecido em 709/1309 no Cairo, foi não somente o discípulo e sucessor do mestre Abu-I-Abbas al-Mursi, ele próprio discípulo do fundador dessa ordem, Íman Abu-I-Hassan Shadili, mas também o primeiro mestre desta Tariqa sufi a deixar uma obra doutrinal escrita. Podemos presumir que seu Hikam resume e fixa o ensinamento oral de seus predecessores.

Titus Burckhardt


Ibn ‘Atâ-Allah al-Iskandarî al-Judâmî as-Shâdilî, nasceu em Alexandria, Egito, no século XIII/VII (da hegira). Teve uma educação tradicional islâmica recebida de grandes mestres. Seu sheikh Abû al-‘Abbâs al-Mursî predisse que Ibn ‘Atâ-Allah tornar-se-ia uma autoridade tanto na sharia/fiqh como na tariqah/Via espiritual: “Ele disse pela via da sharia, o conhecimento exotérico, e pelo da Verdade ou tariqah, o conhecimento esotérico”. O shaikh Abû al-‘Abbâs al-Mursî foi um discípulo privilegiado do sheikh as-Shâdilî, qutb (pólo espiritual) de seu tempo e um dos maiores mestres sufis da história do Islão. Com relação aos fundamentos da Via espiritual, Ibn ‘Atâ-Allah afirma que: “A base de sua Via – que Deus seja louvado – é a concentração em Deus, o combate contra a dispersão (ádam at-tafriqa), a perseverança no retiro espiritual (khalwah) e a invocação (zikr) do supremo Nome”. Sua obra portadora de grandes ensinamentos metafísicos e espirituais, também dirigida ao crente comum, regista com beleza e sabedoria os ensinamentos de seus mestres da Via sufi.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ocultismo & Religião


Este estimulante livro expõe e debate as relações entre psicologia, ocultismo e religião que permeiam as obras de Freud, Jung e Mircea Eliade.

Ele expõe informações, só recentemente disponíveis, que mostram que havia na psicanálise freudiana aspectos que iam além do materialismo estrito pelo qual ela ficou popularmente conhecida. Harry Oldmeadow e Mateus Soares de Azevedo revelam, em primeira mão em língua portuguesa, que o método psicanalítico concebido por Freud sofreu forte influência de ramos subterrâneos da tradição judaica, sobretudo de movimentos messiânicos heterodoxos, como o Sabataísmo e o Frankismo.

De modo similar, o livro documenta como o psicólogo suíço Carl Gustav Jung se valeu de doutrinas gnósticas, ocultistas e mesmo cristãs para compor seu método terapêutico, o qual muitos atribuem perfeita convergência com doutrinas tradicionais. Em outras palavras, a presente obra discute se o Junguismo constitui uma alternativa real à perspectiva de Freud, como se acredita em círculos intelectuais e religiosos contemporâneos.

Ocultismo & Religião (São Paulo, editora Ibrasa, 2011) põe em relevo igualmente a vida e a obra do historiador de religiões romeno Mircea Eliade, outro influente intelectual que refletiu sobre os choques e intercâmbios entre religião, ocultismo e psicologia.

Os autores confrontam com discernimento e coragem o lugar do homem em um mundo no qual a ciência despojou o cosmo de significado profundo, solapou os pilares da fé e roubou do homem sua envergadura espiritual.

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SUMÁRIO

Apresentação
Capítulo 1 – A religião secreta de Freud
Capítulo 2 – Jung e os crentes sem religião
Capítulo 3 – Mircea Eliade e Jung
Bibliografia Selecionada