Como anunciado numa publicação recente, foi iniciada a preparação do quarto número da Revista Sabedoria Perene que será dedicado à Educação. Este olhar para a educação será à luz da Tradição, de todas as tradições religiosas e sapienciais da humanidade, e será, por certo, profundamente crítico da educação actual, a qual se encontra aparentemente, como muitos outros aspectos da nossa sociedade, num estado profundamente doentio, arriscamos mesmo dizer, terminal.
É nosso desígnio que esta constatação resulte evidente do trabalho monográfico que será apresentado e que, não só as razões para tal infortúnio sejam apontadas, como também iluminadas as direcções para uma inversão deste caminho, em última análise, auto-destrutivo – pois o futuro da nossa existência como comunidade depende da educação dada aos nossos jovens.
Os trechos que se apresentam de seguida e que abrirão este ciclo de estudos ilustram bem o antagonismo entre as visões tradicionais e a visão moderna da educação. Mostram eloquentemente a incomensurável distância entre um mundo centrado no individualismo e outro que, vendo "Deus em toda a parte”, vê no outro a si próprio.
(…) E isto resulta, finalmente, que quando se passa de um ano para outro – ou mesmo espacialmente de uma sala de aula para outra – as conclusões podem ser diametralmente opostas. Mais isso não importa nem perturba ninguém, desde que seja garantida a liberdade de expressão. Trata-se de um total e absoluto desprezo da Verdade, o qual encontramos inevitavelmente – e em diversos graus – em todos os níveis da sociedade. Na maior parte das situações em que dois indivíduos emitem uma opinião contrária, é considerado adequado exigir que cada um deles “faça um esforço” para conseguir chegar a um “acordo” que se considerará “pelo menos uma verdade objectiva” (cada um sacrificando, de certa maneira, um pouco da sua subjectividade, sem falar da sua pretensão e do seu orgulho); e tudo isto sem dar qualquer importância à dignidade e ao valor intrínseco das personagens, nem tão pouco à profundidade da opinião emitida. (…) [mas] A verdade não é uma questão de “acordos” feitos de fraquezas e de subtis hipocrisias (…)
Ao agir deste modo numa sala de aulas, recusa-se tomar consciência que se está a encerrar o aluno nos estreitos limites do seu ego, o qual é incitado a uma espécie de autocracia. Pouco a pouco, torna-se insensível a qualquer coisa diferente da sua própria opinião, expressão da sua personalidade e da sua liberdade. Para mais, não se está longe de pensar que quanto mais a sua opinião é diferente dos seus colegas, mais ele dá prova da sua personalidade. E é esta, sem qualquer dúvida, a mais temível das prisões na qual se encerra um jovem: a sua própria. Uma célula limitada por todas as partes, tal como o é todo o indivíduo, e da qual se impede de sair sob pena de perder aquilo que chamamos de liberdade mas que é, na realidade, a pior das escravaturas. (…)
Extraído de
de Ghislain Chetan
Uma das grandes lições que tínhamos que aprender era que devíamos ter uma grande força de vontade para ser desprendidos. Às crianças ensinava-se a dar aos outros e a fazê-lo com generosidade. Aquele que dava um presente sem valor não se podia considerar uma pessoa generosa. Tínhamos que oferecer as nossas posses até nos tornarmos pobres em bens materiais e até que não nos restasse nada mais do que o deleite e a alegria da nossa força desnudada. Era uma obrigação inevitável doar aos necessitados e aos desamparados, e quando as mães davam presentes aos débeis e aos anciãos davam uma parte desses presentes às crianças, para que eles mesmos pudessem oferecê-los por suas próprias mãos. As crianças lakota costumavam trazer para os seus tipis pessoas débeis e anciãs que passavam em frente à sua tenda. Se uma criança fazia isto a sua mãe devia preparar imediatamente uma refeição, pois ignorar a cortesia da criança seria algo imperdoável.
Uma vez que é muito fácil inspirar a compaixão de uma criança, os lakota aprendiam a oferecer presentes a todo o momento e em qualquer lugar, com o objectivo único de se converterem em pessoas fortes e valentes. O melhor guerreiro era aquele que se desprendia das suas posses mais queridas ao mesmo tempo que cantava de alegria e de bênção.
Luther Standing Bear
(Sioux Oglala)
Talvez o mais difícil da paternidade não fosse vigiar a conduta das crianças, mas sim vigiar a conduta adequada dos pais, uma vez que o método que usavam para ensinar os seus filhos era fazê-los observar detidamente a conduta dos adultos. As crianças lakota, que possuíam um grande vigor natural e que tinham as faculdades muito desenvolvidas graças ao contacto com a natureza, percebiam tudo através dos seus olhos e dos seus ouvidos. Assim, os pais lakota, tal como os restantes adultos, estavam submetidos a um exame contínuo da sua conduta e das suas conversas. Por esta razão, tinham que actuar da forma mais digna e exemplar possível.
Luther Standing Bear
(Sioux Oglala)
Muito interessante a parte onde o ciclo virtuoso acaba fazendo dos filhos um instrumento de correção da própria conduta dos pais. em certos casos isso pode ser observado ainda na nossa sociedade, mas isso parece se perder na voracidade da vida atual.
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