quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Titus Burckhardt e a Escola Perenialista

No seguimento das publicações mais recentes, e em jeito de preparação do segundo número da Revista Sabedoria Perene, aproveitamos este notável artigo sobre Titus Burckhardt, e sobre a escola de pensamento que este autor ajudou a consolidar, para prestar três tributos:

- Um primeiro tributo ao próprio Titus Burckhardt, a quem dedicaremos a rubrica “in memoriam” do próximo número da Revista Sabedoria Perene, através da divulgação da obra que reúne o que de mais essencial se pode extrair das reflexões, legadas por este gigante da escola perenialista, sobre a arte sagrada, sobre as fés e sobre as civilizações – The Essential Titus Burckardt, publicado pela World Wisdom em 2003.



- Um segundo tributo, dirigido ao muito notável William Stoddart, autor do artigo agora publicado e também responsável pela magistral selecção e edição dos textos contidos na obra acima mencionada, e que é também uma das figuras contemporâneas mais importantes no campo da filosofia perene.

- Um último tributo, mas não menos importante que os dois primeiros, aos nossos amigos da editora Sapientia, e nomeadamente ao Alberto Vasconcelos Queiroz, responsável pela tradução de grande parte deste "Titus Burckhardt e a Escola Perenialista". Aqui fica um forte abraço para estes nossos amigos.


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Titus Burckhardt, um suíço alemão, nasceu em Florença em 1908 e faleceu em Lausanne em 1984. Burckhardt dedicou toda a sua vida ao estudo e à exposição dos diferentes aspectos da Sabedoria e da Tradição.

Na era da ciência moderna e da tecnocracia, Titus Burckhardt foi um dos mais notáveis expositores da verdade universal, no domínio da metafísica bem como no da cosmologia e no da arte tradicional. No mundo do existencialismo, da psicanálise e da sociologia, ele foi uma das principais vozes da philosophia perennis, aquela “sabedoria incriada” que está exposta no Platonismo, no Vedanta, no Sufismo, no Taoísmo e em outros ensinamentos esotéricos ou sapienciais autênticos. Em termos literários e filosóficos, ele foi um eminente membro da “escola tradicionalista” no século XX.

Os dois originadores da escola perenialista foram o francês René Guénon (1886-1951) e o alemão Frithjof Schuon (1907-1998). Pode ter interesse notar de passagem que outras duas célebres escolas de sabedoria possuíram uma dupla de originadores, nomeadamente, aquelas associadas a Sócrates e Platão em Atenas no século V a.C., e a Rûmî e Shams ad-Dîn Tabrîzî na Turquia do século XIII. Ainda outro exemplo exaltado de colaboração dupla foi o de Hônen e Shinran, fundadores da escola da Terra Pura do Budismo, no Japão dos séculos XII-XIII.

O grande predecessor-cum-originador da escola tradicionalista foi René Guénon (1186-1951). Guénon retraçou a origem do que ele chamou de desvio moderno ao fim da Idade Média e à chegada da Renascença, aquela irrupção cataclísmica de secularização, quando o nominalismo venceu o realismo, o individualismo (ou humanismo) substituiu o universalismo, e o empiricismo baniu o escolasticismo. Uma parte importante da obra de Guénon foi portanto sua crítica do mundo moderno de um ponto de vista implacavelmente “platónico” ou metafísico. Essa crítica tomou a forma de dois volumes magistrais, A Crise do Mundo Moderno e O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos. O lado positivo da obra de Guénon foi sua exposição dos princípios imutáveis da metafísica universal e da ortodoxia tradicional. Sua principal fonte foi a doutrina shankariana do “não-dualismo” (advaita), e o seu principal trabalho, sob este aspecto, é O Homem e seu Devir segundo o Vedanta. Contudo, ele também se voltou prontamente para outras fontes tradicionais, dado que considerava todas as formas tradicionais como diferentes expressões da Verdade una e supra-formal. Outro aspecto importante da obra de Guénon foi a sua brilhante exposição do conteúdo intelectual dos símbolos tradicionais, fosse qual fosse a religião de origem. Neste sentido, ver o seu livro Symboles fondamentaux de la Science sacrée.

É importante notar que os escritos de Guénon, apesar de serem de uma importância capital, tinham um carácter puramente “teórico” e não tinham pretensão de lidar com a questão da realização. Por outras palavras, a sua preocupação era em geral a intelectualidade (ou a doutrina), não directamente a espiritualidade (ou o método).

O sol ergueu-se para a escola tradicionalista com o surgimento da obra de Frithjof Schuon (nascido em Basileia em 1907). Meio século antes, um tomista inglês escreveu a respeito deste autor: “A sua obra tem a autoridade intrínseca de uma inteligência contemplativa.” Mais recentemente, um respeitado académico norte-americano declarou; “Em profundidade como em amplitude, [ele é] o cume de nosso tempo; não conheço nenhum pensador vivo que possa rivalizar com ele.” T.S. Eliot, poeta inglês e prémio Nobel da literatura, teve uma impressão similar. A respeito do primeiro livro de Schuon, ele escreveu em 1953: “Não encontrei obra mais impressionante no estudo comparativo da religião do Oriente e do Ocidente.”

Schuon escreveu mais de vinte livros filosóficos em francês e, a caminho do fim da sua vida, um ciclo de mais de 3.000 poemas didácticos no seu alemão nativo. Os seus trabalhos filosóficos começaram a aparecer durante a última parte da vida de Guénon. Até seus últimos dias, Guénon costumava referir-se a ele (por exemplo, nas páginas de Études Traditionelles) como “nosso eminente colaborador”. Schuon continuou, de forma ainda mais notável, a perspicaz e irrefutável crítica do mundo moderno, e alcançou alturas insuperáveis na sua exposição da verdade essencial – iluminadora e salvífica – que está no coração de toda forma revelada. Schuon chamou essa verdade supra-formal de religio perennis. Este termo, que não implica uma rejeição dos termos similares philosophia perennis e sophia perennis, contém, não obstante, a indicação de uma dimensão adicional que está infalivelmente presente nos escritos deste autor. Esta dimensão é a de que a compreensão intelectual engendra uma responsabilidade espiritual, de que a inteligência deve ser complementada pela sinceridade e pela fé, e de que o “ver” (em altura) implica o “crer” (em profundidade). Por outras palavras, quanto maior nossa compreensão da verdade essencial e salvadora, maior nossa obrigação de nos esforçarmos em direcção à “realização” interior ou espiritual.

A obra de Schuon começou como um abrangente estudo geral, cujo próprio título serve para definir o cenário: A Unidade Transcendente das Religiões. Seus trabalhos posteriores incluem: La gnose, langage du Soi (sobre o Hinduísmo); Trésors du Bouddhisme; Comprendre l'Islam; Castes et races, Logique et Transcendence e l’Esotérisme comme Principe et comme Voie, um amplo compêndio de iluminação filosófica e espiritual. O seu longo ciclo poético em alemão, em que apenas meros fragmentos foram publicados até ao momento, compreende inúmeros aspectos sobre doutrina metafísica, método espiritual, o papel da virtude e a função da beleza – não apenas em termos genéricos, mas com excepcional intimidade, detalhe, e precisão. Estes poemas exibem um incrível grau de perspicácia, profundidade e compaixão.

A prossecução da obra de Guénon e de Schuon foi assumida por dois ilustres continuadores: o indiano Ananda K. Coomaraswamy (1877-1947), que escreveu em inglês, e o suíço alemão Titus Burckhardt, que escreveu tanto em alemão como em francês.
Ananda Coomaraswamy, um destacado académico e distinto Curador da Colecção Oriental do Museu de Belas Artes de Boston, era já uma autoridade sobre a arte e a estética, tanto do Oriente como do Ocidente, quando encontrou as obras de Guénon. Ainda que este encontro tenha ocorrido relativamente tarde na sua vida, Coomaraswamy ficou profundamente convencido pelo ponto de vista tradicional, tal como estava expresso nos livros de Guénon. A sua vasta erudição permitiu-lhe demonstrar em fascinante detalhe o múltiplo florescimento das civilizações tradicionais erguidas das grandes revelações. Os primeiros principais trabalhos de Coomaraswamy incluem Medieval Sinhalese Art (1908), The Dance of Shiva (1912), Rajput Paintings (1916), e History of Indian and Indonesian Art (1927). Entre os livros mais importantes do seu período posterior estão Christian and Oriental or True Philosophy of Art (1943), Figures of Speech or Figures of Thought (1946) e Am I My Brother’s Keeper? (1947).

Devemo-nos voltar agora para o outro continuador, Titus Burckhardt, mas vamos primeiro olhar mais de perto para o que é entendido pela expressão religio perennis. Um dos princípios fundamentais da religio perennis é que, no centro de cada religião, existe um núcleo de verdade (sobre Deus, o homem, a oração, e a salvação) que é idêntico. Por outras palavras, apesar da pluralidade das formas, existe uma essência comum. Adicionalmente, dentro de cada religião, existe também um meio de salvação, que é essencialmente um caminho de união. Esta doutrina da unidade essencial ou transcendente tem a sua fonte na metafísica universal, a qual (em termos vedânticos) é fundamentalmente discernimento entre o Absoluto (Âtma) e o Relativo (Maya). De acordo com esta doutrina – diversamente representada por Shankara (Hinduísmo), Platão (Grécia), Eckhart (Cristianismo), e Ibn ‘Arabî (Islão) – apenas a Essência Divina (Supra-Ser) é Absoluta, enquanto o Criador ou Deus Pessoal (“Ser”), como primeira determinação-própria da Essência Divina (“Supra-Ser”), está já dentro do domínio do relativo. O Criador, contudo, é “absoluto” no que respeita à sua criação, e pode nesta perspectiva ser qualificado como “o relativamente Absoluto”. O Deus Pessoal, como originador da criação, é “a prefiguração do relativo no Absoluto”. Dentro da própria criação, existe uma “reflexão do Absoluto no relativo”, e isto é o Avatâra; o Profeta; o Salvador; é também a Verdade, a Beleza, a Virtude; Símbolo e Sacramento. Isto leva-nos à doutrina do Logos, com as suas duas faces, criada e incriada: A “prefiguração do relativo no Absoluto” (o Criador ou Deus Pessoal) é o Logos incriado; a “reflexão do Absoluto no relativo” (o Avatâra; Símbolo, ou Sacramento) é o Logos criado. Isto é já uma indicação do que é entendido por um meio de salvação: o aderente religioso, ao unir-se sacramentalmente com o Logos criado, encontra aí um meio de se unir com o Incriado: nomeadamente, Deus como tal.

Podemos agora voltar a Titus Burckhardt. Embora tenha nascido em Florença, Burckhardt era o herdeiro de uma família patrícia da Basileia. Ele era sobrinho-neto do famoso historiador da arte Jacob Burckhardt e filho do escultor Carl Burckhardt. Um ano mais novo que Frithjof Schuon, Titus compartilhou com este seus primeiros tempos de escola na Basileia, por volta da Primeira Guerra Mundial. Aquele foi o começo de uma amizade íntima e de um relacionamento intelectual e espiritual profundamente harmonioso, que duraria toda uma vida.

A principal exposição metafísica de Burckhardt, complementando com beleza a obra de Schuon, foi Introduction aux Doctrines Ésotériques de l’Islam. Esta é uma obra-prima intelectual que analisa de forma abrangente e com precisão a natureza do esoterismo como tal. Ela começa tornando claro, com uma série de definições lúcidas e económicas, o que é e o que não é o esoterismo, depois examina as bases doutrinais do esoterismo islâmico ou Sufismo, e termina com uma descrição inspirada da “alquimia espiritual” ou caminho contemplativo que leva à realização espiritual. Este livro estabeleceu claramente Burckhardt como o principal expositor, depois de Schuon, da doutrina intelectual e do método espiritual.

Burckhardt devotou uma grande parte de seus escritos à cosmologia tradicional, que ele via em certo sentido como a “serva da metafísica”. Ele apresentou formalmente os princípios nela envolvidos num artigo magistral e conciso, “A Perspectiva Cosmológica”, publicado pela primeira vez em francês em 1948. Muito depois – numa série de artigos publicados tanto em francês como em alemão em 1964 – ele cobriu o campo cosmológico de forma realmente completa, e também fez muitas e detalhadas referências aos principais ramos da ciência moderna.

Não dissociado do seu interesse pela cosmologia, Burckhardt tinha uma afinidade particular com a arte e o artesanato tradicionais e tinha conhecimento e experiência na avaliação da arquitectura, da iconografia e de outras artes e ofícios tradicionais. Em particular, ele dedicou-se a compreender e explicar como tais artes e ofícios tinham podido – e podem – ser proveitosas espiritualmente, tanto como actividades cheias de significado que, em virtude de seu simbolismo inerente, comportam uma mensagem doutrinal, como enquanto suportes de realização espiritual e meios de graça. Ars sine scientia nihil. Aqui, é claro, trata-se da scientia sacra e da ars sacra, que são os dois lados de uma mesma moeda. Este é o domínio das iniciações de ofícios das várias civilizações tradicionais, e especialmente de coisas tais como, na Idade Média, a maçonaria e a alquimia operativas. De fato, a principal obra de Burckhardt no campo da cosmologia foi seu livro Alchemie, Sinn- und Weltbild (Alquimia: significado e imagem do mundo), uma apresentação brilhante da alquimia como expressão de uma psicologia espiritual e de um suporte intelectual e simbólico para a contemplação e a realização.
O principal trabalho de Burckhardt no campo da arte foi Principes et Méthodes de l’Art Sacré (Princípios e Métodos da Arte Sacra), que contém vários capítulos maravilhosos sobre a metafísica e a estética do Hinduísmo, do Budismo, do Taoísmo, do Cristianismo e do Islão, e termina com uma útil e prática visão da situação contemporânea intitulada “A decadência e a renovação da arte cristã”.

Durante as décadas de 1950 e 1960, Burckhardt foi o director artístico da editora Urs Graf, de Lausanne e Olten. Sua principal actividade durante aqueles anos foi a produção e publicação de toda uma série de fac-símiles de belos manuscritos medievais decorados com iluminuras, especialmente manuscritos celtas dos Evangelhos, como o Book of Kells e o Book of Durrow (do Trinity College, Dublin) e o Book of Lindisfarne (da British Library, Londres). Este foi um trabalho pioneiro da mais elevada qualidade e um feito editorial que imediatamente teve excelente aceitação tanto dos especialistas como do público em geral.

Sua produção do magnífico fac-símile do Book of Kells rendeu-lhe um notável encontro com o Papa Pio XII. A editora Urs Graf queria dar de presente ao papa um exemplar do livro, e decidiu-se que ninguém melhor para isso do que o director artístico Burckhardt. Aos olhos do papa, Burckhardt era um cavalheiro protestante da Basileia. O papa concedeu-lhe uma audiência privada em sua residência de verão em Castelgandolfo. Quando, na sala de audiências, a figura do papa, todo vestido de branco, subitamente apareceu, ele deu as boas-vindas ao seu visitante dizendo em alemão: “Sind Sie also Herr Burckhardt?” (“Então o senhor é Herr Burckhardt?”). Burckhardt curvou-se e, quando o papa lhe ofereceu a mão com o Anel do Pescador, tomou-a respeitosamente na sua. Contudo, como não-católico, Burckhart beijou, não o anel (como é costume entre os católicos), mas os dedos do papa. “O que o papa, com um sorriso, permitiu”, disse depois.

Juntos, os dois conversaram sobre a Idade Média e sobre os insuperavelmente belos manuscritos dos Evangelhos que naquela época tinham sido produzidos com tanto amor e maestria. No final da audiência, o papa deu sua bênção: “Do meu coração eu abençoo o senhor, sua família, seus colegas e seus amigos.”

Foi durante aqueles anos na editora Urs Graf que Burckhardt coordenou uma interessante série de publicações com o título geral de Stätten dês Geistes (“Cidadelas do Espírito”). Tratava-se de estudos históricos-cum-espirituais de certas manifestações de civilização sagrada, e cobriam temas como o Monte Athos, a Irlanda céltica, o Sinai, Constantinopla e outros lugares. O próprio Burckhardt contribuiu para a colecção com os livros Siena, Cidade da Virgem, Chartres e o Nascimento da Catedral, e Fez, Cidade do Islão. Siena é um relato iluminador do apogeu e queda de uma cidade cristã que, arquitecturalmente falando, continua até hoje a ser como que uma jóia gótica. Mais interessante de tudo, no entanto, é a história de seus santos. Burckhardt dedica muitas de suas páginas a Santa Catarina de Siena (que nunca hesitou em repreender um papa, quando sentiu que isso era necessário) e a São Bernardino de Siena (que foi um dos maiores praticantes – e pregadores – católicos do poder salvífico da invocação do Santo Nome). Chartres é a história do “idealismo” (no melhor sentido do termo) que está por trás da concepção e da realização prática das catedrais medievais – os monumentos ainda inteiros de uma idade de fé. Em Chartres, Burckhardt expõe os conteúdos intelectuais e espirituais dos diferentes estilos arquitectónicos – não apenas distinguindo entre o Gótico e o Romanesco, mas mesmo entre as diferentes variantes do Romanesco. É um exemplo ofuscante do que significa o discernimento intelectual.

Um das várias obras-primas de Burckhardt é sem dúvida Fez, Cidade do Islão. Quando jovem, na década de 1930, Burckhardt passou alguns anos em Marrocos, onde criou uma forte amizade com vários notáveis representantes da até então intacta herança espiritual do Magrebe. Este foi claramente um período formativo da vida de Burckhardt, e muito da sua mensagem e do seu estilo subsequentes teve origem nestes primeiros anos. Já naquela época tinha dedicado muito de seu tempo a escrever (coisas não imediatamente publicadas) e foi só no final da década de 1950 que esses escritos e essas experiências amadureceram para formar um livro definitivo e magistral. Em Fez, Cidade do Islão, Burckhardt conta a história de um povo e sua religião – uma história que foi frequentemente violenta, frequentemente heróica, e por vezes santa. Por toda ela corre o fio da piedade e da civilização islâmica. Estas duas Burckhardt expõe com mão segura e esclarecedora, contando muitos dos ensinamentos, parábolas e milagres dos santos de muitos séculos, e demonstrando não apenas as artes e ofícios da civilização islâmica, mas também suas ciências “aristotélicas” e suas habilidades administrativas. Há de fato muito a aprender sobre o governo dos homens e das sociedades com a apresentação penetrante de Burckhardt dos princípios por trás das vicissitudes dinásticas e tribais – com suas falhas e seus sucessos.

De espírito aparentado a Fez é outro dos trabalhos maduros de Burckhardt, A Cultura Moura na Espanha. Como sempre, trata-se de um livro de verdade e de beleza, de ciência e de arte, de piedade e de cultura tradicional. Mas nesta obra, talvez mais que em todas as outras, trata-se do romance, da cavalaria e da poesia da vida pré-moderna.

Durante seus anos de juventude em Marrocos, Burckhardt mergulhou na língua árabe e assimilou os clássicos do Sufismo na sua forma original. Anos depois, compartilharia esses tesouros com o público leitor por meio de traduções de Ibn Arabî e Jîlî . Um de seus mais importantes trabalhos de tradução foi o das cartas espirituais do renomado xeque marroquino do século dezoito Mulay al-‘Arabî ad-Darqâwî. Estas cartas constituem um clássico espiritual e são um precioso documento de aconselhamento espiritual prático.

O último grande trabalho de Burckhardt foi seu amplamente festejado e impressionante Arte do Islão. Aqui, os princípios intelectuais e o papel espiritual da criatividade artística em suas formas islâmicas são ricamente e generosamente mostrados a nós. Com esse nobre volume, o corpus literário ímpar de Titus Burckhardt chega ao seu fim.

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