Esta preciosa tradução de excertos de cartas do Shaykh ad-Darqâwî, o fundador de um importante ramo da Ordem Shadhiliyyad do Norte de África, pertence a uma classe de literatura sufi que ainda não recebeu a devida atenção fora do mundo islâmico.
Cada carta é uma preciosa gema de sabedoria, uma chave indispensável para abrir certas portas que estão diante de cada viajante ao longo do Caminho. Quase todas as cartas dizem respeito ao método e aos aspectos operativos da Via, baseados nas técnicas centrais da invocação ou dhikr. Neste domínio, elas devem ser consideradas entre as mais directas instruções dadas sobre o método sufi que se podem encontrar em toda a literatura sufi, enquanto, geralmente, os mestres têm preferido referir-se às técnicas espirituais propriamente ditas de forma alusiva. No entanto, ocasionalmente, também são discutidos aspectos fundamentais da doutrina sufi.
“A doença que está a afectar o teu coração é uma daquelas coisas que atinge o homem que Deus ama, pois, ‘entre todos os homens, os mais duramente provados são os Profetas, depois os santos, seguidos daqueles que, em maior ou menor grau, se lhes assemelham.’ Portanto não fiques abatido, uma vez que isto acontece muito frequentemente a homens cheios de sinceridade e amor, para que eles avancem em direcção ao seu Senhor. Através deste sofrimento, os seus corações são purificados e transformados em pura substância. Na falta de tais encontros com a realidade, ninguém alcançaria o conhecimento de Deus, longe disso, pois ‘se não houvessem arenas para as almas, os corredores não conseguiriam correr o seu percurso’, tal como é dito por Ibn ‘Ata-Illâh em Hikam, onde ele também diz: ‘Na variedade dos sinais e dos estados mutáveis, eu cheguei a reconhecer a Tua intenção em relação a mim, a de me mostrares todas as coisas, para que não possa existir nada em que eu não Te conhecesse.’ No mesmo sentido, os iniciados disseram: ‘É nestes tempos de rebelião que os homens se destacam de entre os homens. ‘No Alcorão está dito: Supõem as pessoas que serão deixadas em paz porque dizem ‘nós cremos’, e que não serão provados? (XXIX, 1).”
Ao disponibilizar estas cartas em língua inglesa, Titus Burckhardt prestou um serviço àqueles que buscam instrução espiritual. Ele também enriqueceu a literatura sufi nas línguas ocidentais e tornou disponível mais um documento de extraordinário poder e beleza, pertencente ao passado recente.
“Durante os seus primeiros anos em Marrocos, Titus Burckhardt imergiu na língua árabe e assimilou os clássicos do sufismo na sua forma original. Anos mais tarde, através das suas traduções, ele partilharia estes tesouros com um público mais vasto. Um dos seus trabalhos de tradução mais importantes foi o das cartas espirituais do ilustre mestre marroquino do século XVIII, Shaykh Mulay al-‘Arabi ad-Darqâwî. Estas cartas manifestam uma visão profunda e intensa de verdades metafísicas intemporais e, ao mesmo tempo, são um precioso documento de aconselhamento espiritual prático.”
William Stoddart
Muito bem lembrado! Este é, de fato, um livrinho maravilhoso, pequeno na quantidade de páginas (menos de cem), mas de uma enorme qualidade. Deixa-me contente saber que os amigos portugueses do blogue trataram de divulgá-lo aqui, e por isto felicito Diana Morais pela iniciativa e a sensibilidade. É, ademais, uma obra acessível a todos, não exigindo formação acadêmica em filosofia ou história para ser compreendido. É daqueles poucos clássicos da espiritualidade universal, por seu frescor e originalidade. Faz companhia ao Peregrino Russo, no campo cristão, a Alce Negro Fala, do lado da sabedoria dos índios, aos Aforismas Sufis, de Ibn Attaillâh. As cartas do cheique Darqawi falam direto ao coração, dai sua importância, sua universalidade, sua intemporalidade. A ponto de ser enormemente útil, mesmo, ou talvez especialmente, aos buscadores espirituais do Ocidente.
ResponderEliminarMateus, S. Paulo, Brasil.