“É necessário acreditar para compreender, e compreender para acreditar. No entanto, estes não são actos sucessivos, mas actos simultâneos da mente. Por outras palavras, não é possível obter conhecimento de nada que a vontade recuse aceitar, ou amar algo que não seja conhecido.” [Ananda Kentish Coomaraswamy (1887-1947)]
"Uma vida de homem só se justifica pelo esforço, mesmo desafortunado, de melhor compreender. E melhor compreender é melhor aderir. Quanto mais eu compreendo, mais amo, pois tudo o que se compreende está certo."
ResponderEliminarAssim termina o livro " O Despertar dos Mágicos", de Louis Pauwels e Jacques Bergier, que teve enorme impacto nos anos 60 e foi livro de referência para muitos (inclusivé para mim) nessa altura e mesmo depois.
Seja como for, serve este comentário apenas para voltar a salientar que a Verdade pode expressar-se de muitas maneiras e em épocas diferentes, mas é essencialmente a mesma...
Um abraço,
Lucília
Lucília,
ResponderEliminarApesar da importância que, também para mim, teve na minha juventude a leitura do Despertar dos Mágicos, consigo hoje identificar o imenso oceano que separa a perspectiva dos perenialistas da dos pensadores modernos, nos quais os autores do referido livro podem ser incluídos.
Ananda Coomaraswamy indica-nos claramente a importância da entrega total ao sagrado, sem a qual qualquer compreensão é estéril. Este autor, tal como muitos outros desta escola, focam inúmeras vezes a diferença entre o conhecimento, tal como é hoje entendido, um acumular infinito de informação, e a verdadeira sabedoria, aquela que provém do Intelecto.
Deixei aqui esta pequena citação porque ela reflecte a minha batalha actual: a de não só procurar compreender a Verdade, mas nela acreditar das “profundezas” do meu coração e, assim, libertar-me de todos os preconceitos modernos que nos velam o Ser.
Um grande abraço,
Miguel,
ResponderEliminarQuando citei o final do Despertar dos Mágicos não foi com a intenção de encerrar nessas frases uma Verdade Absoluta. Pretendi apenas referir e sublinhar a importância de um dos caminhos que nos podem conduzir a nós próprios e a Deus: o da compreensão. Caminho este imposto pela necessidade que o ser humano tem de racionalizar as questões que ao longo da vida vai colocando acerca de se próprio e de tudo o que o cerca, para assim mais e melhor poder viver e também amar. No entanto, como é óbvio, este entendimento racional de si e do mundo/universo não basta. Ele tem que ser complementado por um “entendimento” intuitivo, de natureza espiritual, proveniente daquilo a que chamo fé (acreditar). E a fé, mais do que um acto voluntário, é, como disse S. Paulo, uma dádiva divina. Algo que nos conecta directamente a Deus. Logo, como é evidente, concordo inteiramente com o trecho que citas de Ananda Coomaraswamy. Eu própria, como já referi algures, penso que a fé e a razão jamais podem (ou devem) ser dissociadas. Elas devem ser, de facto, “actos simultâneos da mente”. Aliados também a uma atitude do coração, acrescentaria eu…
Mas, vejamos agora a questão por um outro ângulo: será que o conhecimento racional tem que surgir em simultâneo com a fé, ou será que o primeiro pode preceder o segundo, ou vice versa?
Não pretendo teorizar sobre a resposta. Apenas pessoalizá-la, podendo dizer neste aspecto que no meu percurso em busca da Verdade e do Amor (ou de Deus, se quiseres) a razão precedeu a fé, e que nessa fase em que imperava a razão, mas intimamente ansiava por alcançar a fé, o livro O Despertar dos Mágicos foi muito importante para o início da minha ascensão em direcção ao espírito. Foi ele que me abriu as portas do “realismo fantástico” de que falavam os autores (a descoberta de que é ténue a fronteira que existe entre o universo visível e o universo invisível) e assim me projectou, inevitavelmente, para o universal em ambos os sentidos. E, como disse Teihard de Chardin, “à escala do cósmico só o fantástico tem possibilidades de ser verdadeiro”. Por outro lado, seria o próprio Teilhard de Chardin, teólogo e cientista, que me ensinou a compreender que “para o homem a única religião aceitável é a que antes de mais o ensinará a reconhecer, amar e servir apaixonadamente o Universo de que ele é o elemento mais importante.» Consegui compreender isso, mesmo antes de ser tocada pelo milagre da fé. Só mais tarde, quando esta surgiu, a razão e a fé se tornaram “actos simultâneos da mente”, associados a uma atitude de coração. Daí o pensar que tudo é caminho, e que os caminhos são múltiplos. E que estes jamais deixam de o ser até que se atinja o ponto “Ómega” de que nos fala Teilhard de Chardin e também a Tradição Sagrada, já que entre o Alfa e o Ómega tudo é e será sempre Caminho...
Grande abraço,
Lucília
Lucília,
ResponderEliminarSinto que, inegavelmente, procuramos o mesmo objectivo, no entanto, os nossos percursos são algo distintos. O que não quer dizer que não se possam vir a cruzar no futuro.
É difícil a minha posição uma vez que, por um lado, sinto não ter os conhecimentos necessários para defender com a necessária precisão a posição dos perenialistas, por outro lado, sinto a obrigação de o fazer, sendo este um espaço a ela dedicado. Daí a minha necessidade de deixar bem clara as diferenças entre a obra de uma personalidade como Ananda Coomaraswamy e, por exemplo, o Despertar do Mágicos, apesar de eu próprio o ter lido no passado e recomendado vivamente. Vou tentar explicar-me um pouco melhor.
Na minha opinião, não é possível aceitar as obras de Guénon, Coomaraswamy e Schuon, os três grandes expoentes da recuperação dos valores da Tradição, sem aceitar a sua profunda crítica da civilização ocidental, podendo admitir-se que esta teve o seu início na época do renascimento. Como é óbvio, esta crítica engloba a maioria dos pensadores que a vêm idolatrando com os seus grandes estandartes da evolução e progresso.
De facto, tal era (e ainda é) o efeito do “realismo fantástico” na sociedade ocidental que Guénon, num fantástico gesto que podemos considerar do mais puro altruísmo, antes de se dedicar à exposição das doutrinas metafísicas, deixou-nos quatro livros em que expôs brilhantemente todos os erros da civilização ocidental e desses “realismos fantásticos”, obras essas que, actualmente, mantêm a mesma pertinência de quando foram escritas na década de 30. Como defendem os perenialistas, apesar de existirem vários caminhos para o topo da montanha, existem muitos que apenas a circundam sem nunca chegar ao topo.
Voltando à citação de Coomaraswamy, ela mostra como estamos tão longe do verdadeiro sentido do sagrado, sendo incapazes de compreender que os actos de acreditar e compreender devem ser simultâneos. Em relação a Teihard de Chardin, autor criticado pelos pensadores tradicionalistas, vemos claramente o erro gerado no renascimento: “para o homem a única religião aceitável é a que antes de mais o ensinará a reconhecer, amar e servir apaixonadamente o Universo de que ele é o elemento mais importante”. As últimas palavras revelam o erro.
Em relação a Teihard de Chardin, embora não tenha lido a obra, Wolfgang Smith tem um ensaio sobre este autor “Teilhardism and the New Religion: A Thorough Analysis of the Teachings of Pierre Teilhard De Chardin”.
As obras de Guénon que refiro são: “Introduction to the Study of Hindu Douctrines”; ”Theosophy: The History of a Pseudo-Religion”; “The Spiritist Falacy” e ”East and West”, neste caso editadas em língua inglesa pela Sophia Perennis.
Espero ter conseguido explicar um pouco a minha posição, mas sem dúvida surgirão muitas mais oportunidades para discutir estes assuntos neste espaço e à medida que a posição defendida pelos perenialistas se for desvendando aos poucos. Para finalizar, não é possível melhor recomendação do que a de sugerir a leitura da obra destes três grandes sábios, René Guénon, Ananda Coomaraswamy e Frithjof Schuon. O que pode levar uma vida como discutia há uns dias com um companheiro de percurso.
Um abraço
Por feliz coincidência iniciei hoje a leitura de um livro já citado neste blog e que, logo nas primeiras páginas, aborda de forma brilhante a questão levantada por A.K.. Trata-se do livro "Knowledge and the Sacred" de Seyyeid Hossien Nars, do qual deixo aqui em pequeno trecho.
ResponderEliminar“(...) Ao longo do fluxo descendente do rio do tempo e das múltiplas refracções e reflexões da Realidade sobre a miríade de espelhos da manifestação do macrocosmos e do microcosmos, o conhecimento tornou-se separado do ser e da beatitude ou êxtase que caracteriza a união do conhecimento e do ser. O conhecimento tornou-se completamente exteriorizado e dessacralizado, especialmente nos segmentos da raça humana que foram transformados pelo processo de modernização, e a beatitude que é fruto da união com o Uno e um aspecto do perfume do sagrado, tornou-se inatingível e para além da capacidade de compreensão da maioria dos que andam sobre a terra. Mas a raiz e a essência do conhecimento continua a ser inseparável do sagrado, pois a verdadeira essência do conhecimento é o conhecimento da realidade que é a Suprema Substância, o Sagrado como tal, comparado com o qual, todos os níveis de existência e todas as várias formas não passam de acidentes. (...)”
Lucília,
ResponderEliminarÉ interessante verificar a reacção que uma pequena citação pode gerar e as diferentes estratégias mentais que podem ser utilizadas para a interpretar.
Nos dias de hoje é cada vez mais complicado encontrar uma plataforma de comunicação comum para discutir conhecimento, e ainda mais complexa essa missão se torna quando o conhecimento visado é de natureza sagrada.
Um dos objectivos deste blog é tentar divulgar uma escola de pensamento que se vem dedicando à recuperação do sentido sagrado do conhecimento e que parece poder construir a tal plataforma de comunicação comum que parece faltar.
Contudo, a perspectiva de análise desta escola diverge completamente do padrão de pensamento moderno que domina os nossos dias e continuam a existir uma série de detalhes que são necessários explorar e esclarecer para que se possa distinguir entre as conclusões aparentemente semelhantes do padrão de pensamento moderno e do tradicionalista (e que não o são de todo).
Designadamente, a ideia subjacente à “realidade fantástica” é um conceito que está associado às características do padrão de pensamento moderno, características essas que são criticadas pela escola tradicionalista nos moldes que se espera poder vir a descrever neste blog oportunamente e que manifestarão de forma certamente imperfeita a posição de R. Guénon (exposta nos livros já citados pelo Miguel) ou a posição mais acessível de um perenialista contemporâneo (Kenneth Harry Oldmeadow), que critica abertamente os legados deixados por Darwin, Freud, Nietzsche e Marx e expõe as marcas profundas e nefastas (obviamente, na perspectiva tradicionalista) que estes legados imprimiram no padrão de pensamento moderno.
Abraços
Quem pode afirmar este é o caminho?
ResponderEliminarQuem de coração puro e razão afiada pode afirmar eu sei?
Será DEUS classificável?
Será que alguém pode afirmar a sua razão sobre a razão de outrém?
Posso não sitar grandes pensadores mas uma coisa eu afirmo, Busco! Com pura vontade e coração aberto, e que jamais direi que a minha verdade é a
VERDADE!
Creio que todo o que busca com desprendimento e sem outras razões que não sejam as de um encontro consigo mesmo logo com DEUS, ( tenha ELE a forma manifesta que tiver) por certo estará no caminho .
Pois não será certo que todo o que busca com coração e vontade puras jamais poderá estar errado?
Não será parte da verdade que DEUS é o todo e assim sendo em qualquer partícula seja material ou espiritual ELE se pode encontrar?
Como pode uma vontade pura na busca da VERDADE seguir a via errada?
Não será que a busca é o que importa e a via nada mais que um meio?
Será que podem vontades puras confrontar-se só pelo facto de seguirem diferentes vias?
Esperemos que num mundo desprovido de qualquer sentido que pelo menos os que buscam saibam ser tolerantes, que aqueles que buscam mais se apoiem que se confrontem, que RELIGIÂO seja uma forma de união e nunca de polémica pois como será possível polemizar DEUS
Um abraço
Por onde começar?...É de facto uma bela utopia! Também o evolucionismo (de certa forma) e o marxismo, para citar apenas dois exemplos, podem ser considerados belas utopias, no entanto, foram e são duas das sementes que deram início à destruição da Tradição no Ocidente e à criação da civilização ocidental que hoje influencia todo o globo terrestre.
ResponderEliminarApesar da aparente beleza das ideias expostas, na realidade elas negam toda a Tradição. De acordo com a Tradição, a Verdade existe de facto é Uma, e foi nos revelada nas grandes ortodoxias ou religiões (independentemente de existirem vias exotéricas ou esotéricas), e só através delas nos podemos aproximar da Realidade Divina ou Deus. Negar isto é negar a Tradição.
Pode-se argumentar que pode ocorrer uma graça divina no exterior das ortodoxias; no entanto, esta teria sempre uma direcção descendente, de Deus para o homem, nunca o oposto, não tendo o homem qualquer intervenção na mesma.
"Quem pode afirmar que este é o caminho?" A resposta é fácil, Deus. E é precisamente isto que faz nas várias revelações à Humanidade, indicando-nos o caminho a seguir. A Verdade está presente nas palavras dos profetas, sábios, mestres ou qualquer outra designação que as grandes Tradições deram aos seus portadores da Verdade.
Quanto à “confrontação”, apesar de julgar que este talvez não seja o termo mais indicado, a realidade é que ela sempre existiu em todas as tradições. A partir do momento em que se perde o contacto directo com a fonte da revelação, o homem começa dispersar-se, dando origem a diferentes interpretações da Verdade. Atingir a Verdade não é de facto tarefa fácil, aliás, ela é simultaneamente o objectivo mais fundamental e mais difícil para o homem alcançar, exigindo uma entrega total. Isto só está de facto ao alcance de muito poucos, sendo estes aqueles a que chamamos profetas, sábios, mestres, etc., os quais devemos procurar seguir as pisadas.
Finalmente, o que se procura neste site não é de forma alguma polemizar Deus, bem pelo contrário, procura-se sim, restituir-lhe o seu verdadeiro significado, redescobrir o “sentido do sagrado”. No entanto, constituí apenas o resultado de buscas pessoais, não se pretendendo de todo defender a detenção da Verdade, simplesmente tornar conhecida aquela que sentimos ser a Verdade, a das grandes revelações da humanidade, a Tradição.
Para concluir, a União (traduzida nas palavras religião, “yoga”, o próprio “tawid”, etc..) que devemos todos perseguir é a união com a Realidade Divina, e sim, BUSQUEMOS!