Desde o início da actividade do Sabedoria Perene que nos temos vindo a dedicar sobretudo à exposição do verdadeiro significado das palavras Tradição e Sophia Perennis, as quais se pretende continuar a aprofundar, sendo fundamental clarificar o seu significado da forma mais completa possível.
No entanto, iremos em algumas das nossas futuras publicações procurar aprofundar igualmente um outro termo de grande importância e que é muitas vezes mal compreendido, o esoterismo. Para tal, recorreremos a alguns perenialistas, procurando extrair das suas obras alguns textos a ele dedicados.
Consideramos o trabalho de estudo e análise do correcto significado da terminologia utilizada em toda a linguagem espiritual de enorme importância, pelo que esta será sempre um dos principais temas deste espaço. Usando as palavras de Frithjof Schuon: “Toda a expressão é necessariamente relativa, no entanto, a linguagem tem a capacidade de transmitir a qualidade de absoluto necessária; a expressão contém tudo, como uma semente: abre tudo, como uma chave mestra; o que resta para ser visto depende da capacidade de entendimento para a qual se dirige”. São precisamente deste autor as palavras apresentadas de seguida, dedicadas ao significado da palavra esoterismo.
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A palavra “esoterismo” sugere, em primeiro lugar, uma ideia de complementaridade, de uma “metade”. O esoterismo é o complemento do exoterismo, é o “espírito” que completa a “letra”. Onde quer que exista uma verdade da Revelação e, assim, uma verdade formal e teológica, deverá igualmente existir uma verdade de intelecção, ou seja, uma verdade não-formal e metafísica; uma verdade não legalista ou obrigatória, mas sim uma que brote a partir da natureza das coisas, e uma verdade que seja também vocacional, uma vez que nem todos os homens apreendem esta natureza.
Mas, de facto, esta segunda verdade existe independentemente da primeira; não sendo, assim, na sua realidade intrínseca, uma metade complementar; só o é extrinsecamente e como que “acidentalmente”. Isto significa que a palavra “esoterismo” designa, não só a verdade total na medida em que é “colorida” pela entrada num sistema de verdade parcial, mas também a verdade total como tal, a qual é incolor. Esta distinção não é uma mera extravagância teórica; pelo contrário, ela implica consequências extremamente importantes.
Assim, o esoterismo como tal é metafísica, a qual está necessariamente ligada a um método apropriado de realização. Mas o esoterismo de uma religião particular – precisamente de um exoterismo particular – tende a adaptar-se a esta religião e, desta forma, entrar nos meandros da teologia, psicologia e legalidade (os quais são estranhos à sua natureza, preservando, ao mesmo tempo, no seu centro secreto, a sua autêntica e plenária natureza), mas para a qual não será o que é.
[Frithjof Schuon - Survey of Metaphysics and Esoterism, Two Esoterisms]