Pode-se (...) ler toda a Bíblia, do livro do Gênesis ao Apocalipse de São João, do Cântico dos Cânticos de Salomão e dos Salmos de Davi às cartas de São Paulo,
mas não se encontrará algo que supere a sabedoria do Sermão da Montanha. Não
parece haver, de fato, em toda a Sagrada Escritura, uma seção que concentre
maior número de doutrinas e conselhos espirituais perenes e universais. Boa
parte de tudo aquilo que o leitor da Bíblia dela se recorda deriva do Sermão: o
Pai-Nosso; as bem-aventuranças; o sal da terra e a luz do mundo; a porta que se abre a quem
bate; as “pérolas” que não devem ser lançadas aos profanos; os “tesouros” a
serem acumulados no céu; o oferecimento da outra face etc. E o ponto mais
formidável de todos: o amor aos inimigos. Não foi à toa que Santo Agostinho
chamou o Sermão de “regra perfeita” da vida virtuosa [1].
Fonte inesgotável de instruções espirituais e morais,
o Sermão é o cerne dos Evangelhos. Vamos mais longe ainda: é a quintessência de
todo o Cristianismo. Num poema, Frithjof Schuon
pergunta: “What is Jesus?” E
responde: “He is the Sermon of the Mount” [2].
* Excerto do artigo O Sermão da Montanha segundo a filosofia perene (Mateus Soares de Azevedo, Interações, 7 11, pp. 77-86,
2011)
[1] Em De Sermone Domini in monte (Edições Santo Tomás, 2003.
Tradução de Carlos Nougué).
[2] “Que é
Jesus? Ele é o Sermão da Montanha.” em: Songs without Names IX (EUA: World Wisdom, 2006).