Como prometido na apresentação do livro “Remembering in a World of Forgetting – Thoughts on Tradition and Postmodernism” de William Stoddart, vou deixar aqui uma tradução de alguns trechos de três dos seus ensaios publicados nesta obra. A minha escolha recaiu sobre a segunda parte do livro, dedicada ao que precisamos de saber para “relembrar” e recuperar o “sentido do sagrado” (usando a expressão frequentemente usada por Seyyed Hossein Nasr), e mais especificamente os três ensaios em que Stoddart reflecte sobre os conceitos de religião, ortodoxia e Intelecto, fundamentais à compreensão de muitos dos textos dedicados ao estudo das doutrinas Tradicionais e da Sophia Perennis.
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RELIGIÃO
Etimologicamente, religião é aquilo que liga, mais especificamente aquilo que liga o homem a Deus. A religião interessa ao homem por duas razões: em primeiro lugar, é ela que explica a natureza e o significado do universo, ou “justifica os modos de Deus para com o homem” (isto é teodiceia); e em segundo lugar, porque elucida qual o papel e o propósito do homem no universo, ou o ensina a se libertar das suas limitações, constrições e terrores (isto é soteriologia).
Em primeiro lugar, a religião é uma doutrina de unidade: Deus é um, e é Ele a origem e o fim do universo e do homem. O homem, no entanto, separou-se de Deus – através da “Queda” de acordo com o Cristianismo, através da ignorância de acordo com as religiões Arianas. Consequentemente, a religião é também um caminho de “retorno”, um método de união. É um caminho sacramental, um meio para a salvação.
Quaisquer que sejam as designações atribuídas, estas duas componentes estão sempre presentes: teodiceia e soteriologia; doutrina e método; teoria e prática; dogma e sacramento; unidade e união.
A doutrina, ou a teoria, está relacionada com a mente (ou, ao nível mais elevado, com o “Intelecto”, no significado metafísico preciso do termo medieval Intelectus, Nous no Grego, ou Buddhi em Sânscrito); o método, ou a prática, está relacionada com a vontade. A religião, para ser verdadeira, deve sempre envolver simultaneamente a mente e a vontade.
A segunda, ou prática, componente da religião pode ser dividida em duas: nomeadamente, adoração e moralidade. A adoração, o designado elemento sacramental, toma geralmente a forma de participação nos rituais revelados (públicos ou privados) de uma dada religião, tendo em vista a conformidade da vontade do homem com as normas do Absoluto, ou por outras palavras, com a vontade de Deus. A moralidade, o elemento social, está relacionada com “fazer as coisas que devem ser feitas e não fazer as coisas que não devem ser feitas”. Alguns dos conteúdos da moralidade são universais: “não matarás”, “não roubarás”, etc.; e outros são específicos da religião em questão: “não farás ícones”, “aquilo que Deus uniu, que nenhum homem separe”, etc.
Chegámos desta forma aos três elementos que René Guénon considerou como características definidoras de todas as religiões: dogma, adoração e moralidade. Quando levado a um grau mais elevado ou mais intenso, nomeadamente o da espiritualidade ou misticismo, estes transformam-se, nas palavras de Frithjof Schuon, em: verdade, via espiritual e virtude. O propósito de uma via espiritual é a assimilação ou realização de verdade divina – noutras palavras, conhecer e amar efectivamente Deus.
Etimologicamente, religião é aquilo que liga, mais especificamente aquilo que liga o homem a Deus. A religião interessa ao homem por duas razões: em primeiro lugar, é ela que explica a natureza e o significado do universo, ou “justifica os modos de Deus para com o homem” (isto é teodiceia); e em segundo lugar, porque elucida qual o papel e o propósito do homem no universo, ou o ensina a se libertar das suas limitações, constrições e terrores (isto é soteriologia).
Em primeiro lugar, a religião é uma doutrina de unidade: Deus é um, e é Ele a origem e o fim do universo e do homem. O homem, no entanto, separou-se de Deus – através da “Queda” de acordo com o Cristianismo, através da ignorância de acordo com as religiões Arianas. Consequentemente, a religião é também um caminho de “retorno”, um método de união. É um caminho sacramental, um meio para a salvação.
Quaisquer que sejam as designações atribuídas, estas duas componentes estão sempre presentes: teodiceia e soteriologia; doutrina e método; teoria e prática; dogma e sacramento; unidade e união.
A doutrina, ou a teoria, está relacionada com a mente (ou, ao nível mais elevado, com o “Intelecto”, no significado metafísico preciso do termo medieval Intelectus, Nous no Grego, ou Buddhi em Sânscrito); o método, ou a prática, está relacionada com a vontade. A religião, para ser verdadeira, deve sempre envolver simultaneamente a mente e a vontade.
A segunda, ou prática, componente da religião pode ser dividida em duas: nomeadamente, adoração e moralidade. A adoração, o designado elemento sacramental, toma geralmente a forma de participação nos rituais revelados (públicos ou privados) de uma dada religião, tendo em vista a conformidade da vontade do homem com as normas do Absoluto, ou por outras palavras, com a vontade de Deus. A moralidade, o elemento social, está relacionada com “fazer as coisas que devem ser feitas e não fazer as coisas que não devem ser feitas”. Alguns dos conteúdos da moralidade são universais: “não matarás”, “não roubarás”, etc.; e outros são específicos da religião em questão: “não farás ícones”, “aquilo que Deus uniu, que nenhum homem separe”, etc.
Chegámos desta forma aos três elementos que René Guénon considerou como características definidoras de todas as religiões: dogma, adoração e moralidade. Quando levado a um grau mais elevado ou mais intenso, nomeadamente o da espiritualidade ou misticismo, estes transformam-se, nas palavras de Frithjof Schuon, em: verdade, via espiritual e virtude. O propósito de uma via espiritual é a assimilação ou realização de verdade divina – noutras palavras, conhecer e amar efectivamente Deus.
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O aspecto mais importante da religião é que ela não tem origem humana. A religião não é inventada pelo homem, mas revelada por Deus. Cada religião é uma revelação da Realidade Última. A revelação Divina é um aspecto sine qua non; sem ela não existe religião mas apenas uma ideologia de origem humana, na qual não existe qualquer garantia de verdade e, sobretudo, nenhum meio de sacramento ou de salvação.
O aspecto fundamental que se segue em termos de importância é a tradição. Depois de ser revelada, a religião é transmitida – inalterada na sua essência, mas frequentemente mais elaborada na sua expressão – de geração em geração, pelo poder da tradição. E finalmente, directamente ligada à tradição, surge o aspecto de ortodoxia, o qual é visto como um princípio da verdade, ou, na prática, como a preservação da pureza doutrinal.
Em resumo, os conteúdos essenciais que constituem uma religião são o dogma, a adoração e a moralidade; e a indispensável “estrutura” ou “receptáculo” da religião compreende revelação, tradição e ortodoxia.
O aspecto fundamental que se segue em termos de importância é a tradição. Depois de ser revelada, a religião é transmitida – inalterada na sua essência, mas frequentemente mais elaborada na sua expressão – de geração em geração, pelo poder da tradição. E finalmente, directamente ligada à tradição, surge o aspecto de ortodoxia, o qual é visto como um princípio da verdade, ou, na prática, como a preservação da pureza doutrinal.
Em resumo, os conteúdos essenciais que constituem uma religião são o dogma, a adoração e a moralidade; e a indispensável “estrutura” ou “receptáculo” da religião compreende revelação, tradição e ortodoxia.
ORTODOXIA
Actualmente, e com grande frequência, a ortodoxia é entendida como sendo simplesmente uma forma de intolerância: um grupo de pessoas impondo o seu ponto de vista a outros. Em relação a este aspecto é, no entanto, útil lembrar o primeiro ponto do “Caminho das Oito Vias” do Budismo: a “compreensão correcta” ou “pensamento correcto”. É óbvia a razão pela qual o “pensamento correcto” deve aparecer em primeiro lugar, pois, quer em termos lógicos, quer em termos práticos, antecede a “actuação correcta”. E qual é a palavra que significa “correcto pensamento”? Essa palavra é precisamente “ortodoxia” (com origem no Grego).
Para ser mais preciso: 2 + 2 = 4 é ortodoxia; 2 + 2 = 5 é inortodoxia. Bastante simples – mas funciona da mesma forma a níveis mais elevados. Uma outra forma de abordar a questão é a seguinte: mesmo nas actuais circunstâncias, muitas pessoas ainda preservam a noção de “pureza moral”, atribuindo-lhe elevada estima. A ortodoxia é a “pureza intelectual”, sendo esta um prelúdio essencial para a graça. Visto desta perspectiva – e longe de “impor pontos de vista a outros” – a ortodoxia não é mais do que uma referência para a primazia e prioridade da verdade. A ortodoxia é, na verdade, o princípio de verdade que existe nos mitos, símbolos e dogmas, os quais são a linguagem da revelação.
Tal como a moralidade, a ortodoxia pode ser universal (quando em conformidade com a verdade) ou específica (quando em conformidade com uma dada religião). Ela é universal quando afirma que Deus é incriado, absoluto ou infinito. É específica quando afirma que Jesus é Deus (Cristianismo), ou que Deus toma a forma tripartida de Brahmâ, Vishnu e Shiva (Hinduísmo).
A noção de ortodoxia é especialmente importante num mundo em que as grandes religiões se tornaram explicitamente conscientes da sua mútua existência, vivendo os seus aderentes em grande proximidade.
INTELECTO
Actualmente, em linguagem corrente, a palavra “intelecto” é usada descuidadamente como um sinónimo de “mente”. Os autores tradicionalistas, pelo contrário, seguindo a Escolástica Medieval, usam esta palavra com um significado diferente e especial; frequentemente recorrendo à utilização da forma com a letra inicial maiúscula. Esta palavra, Intelecto, é usada como sinónimo de “Espírito”. Qual é então o seu significado?
O Intelecto é a faculdade inata de conhecimento objectivo. Como exemplos imediatamente aparentes deste conhecimento embutido na substância humana podemos referir o sentido de lógica, a nossa capacidade para a aritmética, o nosso sentido de justiça e a nossa noção do certo e do errado. Estas faculdades, juntamente com aquilo que é designado por “consciência”, pertencem todas ao Intelecto.
As características do Intelecto são o seu carácter intuitivo, a sua objectividade e a sua supra-formalidade ou supra-individualidade. A operação do Intelecto é por vezes designada por “intuição intelectual” ou “intelecção”.
Toda a gente sabe que o homem é constituído por alma e corpo; mas na verdade o homem é um ternário: ele compreende Espírito (Intelecto), alma e corpo. Na Idade Média, este ternário era designado por Spiritus, anima, corpus. A alma é imortal, mas ao mesmo tempo é formal, individual e subjectiva. O Espírito ou Intelecto é imortal, simultaneamente supra-formal, universal e objectivo.
Actualmente, e com grande frequência, a ortodoxia é entendida como sendo simplesmente uma forma de intolerância: um grupo de pessoas impondo o seu ponto de vista a outros. Em relação a este aspecto é, no entanto, útil lembrar o primeiro ponto do “Caminho das Oito Vias” do Budismo: a “compreensão correcta” ou “pensamento correcto”. É óbvia a razão pela qual o “pensamento correcto” deve aparecer em primeiro lugar, pois, quer em termos lógicos, quer em termos práticos, antecede a “actuação correcta”. E qual é a palavra que significa “correcto pensamento”? Essa palavra é precisamente “ortodoxia” (com origem no Grego).
Para ser mais preciso: 2 + 2 = 4 é ortodoxia; 2 + 2 = 5 é inortodoxia. Bastante simples – mas funciona da mesma forma a níveis mais elevados. Uma outra forma de abordar a questão é a seguinte: mesmo nas actuais circunstâncias, muitas pessoas ainda preservam a noção de “pureza moral”, atribuindo-lhe elevada estima. A ortodoxia é a “pureza intelectual”, sendo esta um prelúdio essencial para a graça. Visto desta perspectiva – e longe de “impor pontos de vista a outros” – a ortodoxia não é mais do que uma referência para a primazia e prioridade da verdade. A ortodoxia é, na verdade, o princípio de verdade que existe nos mitos, símbolos e dogmas, os quais são a linguagem da revelação.
Tal como a moralidade, a ortodoxia pode ser universal (quando em conformidade com a verdade) ou específica (quando em conformidade com uma dada religião). Ela é universal quando afirma que Deus é incriado, absoluto ou infinito. É específica quando afirma que Jesus é Deus (Cristianismo), ou que Deus toma a forma tripartida de Brahmâ, Vishnu e Shiva (Hinduísmo).
A noção de ortodoxia é especialmente importante num mundo em que as grandes religiões se tornaram explicitamente conscientes da sua mútua existência, vivendo os seus aderentes em grande proximidade.
INTELECTO
Actualmente, em linguagem corrente, a palavra “intelecto” é usada descuidadamente como um sinónimo de “mente”. Os autores tradicionalistas, pelo contrário, seguindo a Escolástica Medieval, usam esta palavra com um significado diferente e especial; frequentemente recorrendo à utilização da forma com a letra inicial maiúscula. Esta palavra, Intelecto, é usada como sinónimo de “Espírito”. Qual é então o seu significado?
O Intelecto é a faculdade inata de conhecimento objectivo. Como exemplos imediatamente aparentes deste conhecimento embutido na substância humana podemos referir o sentido de lógica, a nossa capacidade para a aritmética, o nosso sentido de justiça e a nossa noção do certo e do errado. Estas faculdades, juntamente com aquilo que é designado por “consciência”, pertencem todas ao Intelecto.
As características do Intelecto são o seu carácter intuitivo, a sua objectividade e a sua supra-formalidade ou supra-individualidade. A operação do Intelecto é por vezes designada por “intuição intelectual” ou “intelecção”.
Toda a gente sabe que o homem é constituído por alma e corpo; mas na verdade o homem é um ternário: ele compreende Espírito (Intelecto), alma e corpo. Na Idade Média, este ternário era designado por Spiritus, anima, corpus. A alma é imortal, mas ao mesmo tempo é formal, individual e subjectiva. O Espírito ou Intelecto é imortal, simultaneamente supra-formal, universal e objectivo.
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Acima de tudo, o Intelecto é a faculdade que permite ao homem conceber o Absoluto e de conhecer a Verdade. É a fonte da sua capacidade para a objectividade, ou a sua habilidade – em oposição aos animais – para se libertar da prisão da subjectividade. É a própria definição do estado humano. Tal como Frithjof Schuon referiu várias vezes: “O Intelecto pode conhecer tudo o que é conhecível”. Isto deve-se ao facto do Conhecimento do Coração ou gnôsis ser inato e presente em nós num estado virtual. Esta virtualidade terá de ser realizada através de um processo que na doutrina Platónica corresponde ao “relembrar” (anamnesis), o qual, em última análise, é semelhante à prática Cristã de “relembrar Deus” (memoria Dei). “O reino dos Céus está em ti”.
Intelecto e Espírito são os dois lados da mesma moeda, o primeiro relacionado com o teórico e o doutrinal, o último relacionado com o prático e o realizável. Eles estão relacionados com os modos objectivo (ou discriminativo) e subjectivo (unitivo) de conhecer, respectivamente.
Os três elementos ou “níveis” na constituição humana podem ser resumidos da seguinte forma:
Foi referido como actualmente se confunde o “intelectual” com o “mental” ou o “racional”. De facto, ao contrário do Intelecto, o qual se encontra “acima” da alma, a mente ou a razão é um conteúdo da alma, tal como o são outras faculdades como a vontade, os afectos ou sentimentos, a imaginação e a memória.
O Espírito, apesar de “criado”, é supra-formal ou universal, e é directamente tocado pelo Divino. É o único elemento supra-individual, “arquétipo” ou objectivo da constituição humana. O Espírito é, desta forma, a “medida” da alma e nunca o oposto. O erro fundamental dos psicólogos, como por exemplo Jung, é a incapacidade para distinguir entre alma e Espírito, resultando consequentemente na sua abolição do último. De uma só vez é abolida a capacidade para a objectividade e, em consequência, para a espiritualidade. O caos e os danos resultantes deste fatal e anti-Platónico acto de cegueira são incalculáveis.
O Espírito, apesar de “criado”, é supra-formal ou universal, e é directamente tocado pelo Divino. É o único elemento supra-individual, “arquétipo” ou objectivo da constituição humana. O Espírito é, desta forma, a “medida” da alma e nunca o oposto. O erro fundamental dos psicólogos, como por exemplo Jung, é a incapacidade para distinguir entre alma e Espírito, resultando consequentemente na sua abolição do último. De uma só vez é abolida a capacidade para a objectividade e, em consequência, para a espiritualidade. O caos e os danos resultantes deste fatal e anti-Platónico acto de cegueira são incalculáveis.
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É apropriado introduzir ainda algumas considerações sobre a Divindade. “Normalmente” em teologia fala-se de Deus e do homem. Por outro lado, em teologia mística, ou em metafísica universal – tal como evidenciado, por exemplo, por Shankara no Hinduísmo, por Mestre Eckhardt no Cristianismo, e Ibn ‘Arabi no Islão – é feita a distinção no seio da Divindade, entre “Deus” e “Divindade” [Godhead], entre “Criador” e “Essência Divina”, entre “Deus pessoal” e “Deus impessoal”, entre “Ser” e “Supra-Ser”.
A Divindade é absoluta, a criação é relativa. No entanto, existe no Absoluto (a Essência Divina) uma prefiguração do relativo, e esta é o Deus Pessoal ou Criador. Esta prefiguração da criação no “Incriado” é o “Logos Incriado”.
Adicionalmente, na criação, a qual é relativa, existe uma reflexão do Absoluto, o Espírito ou o Intelecto. Objectivamente, esta reflexão do Absoluto no relativo (ou do Incriado no criado) revela-se na Verdade, na Beleza, na Virtude, no Símbolo e no Sacramento. Manifesta-se ainda no Profeta, no Redentor, no Tathâgatha, no Avatâra. Esta reflexão do Absoluto no relativo é o “Logos criado”. Sem o Logos (com as suas duas “Faces”, criado e incriado), não seria possível qualquer contacto entre o homem e Deus. Sem o Logos, existiria um dualismo fundamental e não um “Não-dualismo” (Advaita). As espiritualidades ou misticismos de todas as grandes religiões ensinam que é através da união (pela oração e sacramento) com o “Logos criado” que o homem pode alcançar união com Deus.
Entendendo, no seio do homem, os três níveis Spiritus, anima e corpus, e entendendo, em Deus, os dois níveis Criador e Essência Divina, obtemos cinco níveis. Estes são designados por “Cinco Níveis da Realidade” ou “Cinco Presenças Divinas”, e podem ser representados da forma apresentada de seguida.
A Divindade é absoluta, a criação é relativa. No entanto, existe no Absoluto (a Essência Divina) uma prefiguração do relativo, e esta é o Deus Pessoal ou Criador. Esta prefiguração da criação no “Incriado” é o “Logos Incriado”.
Adicionalmente, na criação, a qual é relativa, existe uma reflexão do Absoluto, o Espírito ou o Intelecto. Objectivamente, esta reflexão do Absoluto no relativo (ou do Incriado no criado) revela-se na Verdade, na Beleza, na Virtude, no Símbolo e no Sacramento. Manifesta-se ainda no Profeta, no Redentor, no Tathâgatha, no Avatâra. Esta reflexão do Absoluto no relativo é o “Logos criado”. Sem o Logos (com as suas duas “Faces”, criado e incriado), não seria possível qualquer contacto entre o homem e Deus. Sem o Logos, existiria um dualismo fundamental e não um “Não-dualismo” (Advaita). As espiritualidades ou misticismos de todas as grandes religiões ensinam que é através da união (pela oração e sacramento) com o “Logos criado” que o homem pode alcançar união com Deus.
Entendendo, no seio do homem, os três níveis Spiritus, anima e corpus, e entendendo, em Deus, os dois níveis Criador e Essência Divina, obtemos cinco níveis. Estes são designados por “Cinco Níveis da Realidade” ou “Cinco Presenças Divinas”, e podem ser representados da forma apresentada de seguida.